Em delírios causados pela morfina, usada para tratar a dor de um câncer, Ivanovich Paulo da Silva, o maestro Ivan Paulo, não tirava a música da cabeça. Falava em fazer mixagem, voz, partitura.
Era um jeito de, mesmo impossibilitado, continuar fazendo na imaginação o que sabia de melhor.
É improvável que algum amante do samba não tenha ouvido algum dos sucessos que passaram pela mão do maestro, mesmo sem saber. “Quando você ouvir um clássico do samba, se puder procure na ficha técnica, o nome do Ivan Paulo deverá estar lá”, escreveu nas redes sociais o sambista Diogo Nogueira, um dos que trabalharam com o maestro.
De fato, é difícil achar um entre os bambas do samba que não tenha algum sucesso arranjado por Ivan. Em seu currículo, há discos de Clara Nunes, Bezerra da Silva, Beth Carvalho, Alcione, Leci Brandão, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.
“Ele era muito procurado pelos artistas, mas não tinha ego. E vivia para o trabalho”, diz a mulher, Maria Aparecida Ferreira, 51.
Segundo ela, apesar de nas últimas décadas ter se dedicado ao samba, ele também trabalhou com grandes nomes da MPB como Ney Matogrosso e Elis Regina. Recentemente, fez arranjos para a filha de Elis, Maria Rita.
Ivan herdou o ofício do pai, também maestro. Nasceu no Estado de São Paulo, mas fez a carreira no Rio, onde trabalhou até o ano passado.
Desde 2016, lutava contra um câncer no pulmão, que acabou se espalhando. Morreu no dia 7 de fevereiro, deixando a mulher e dois filhos.
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