A história de Lea Fortes começa com uma casa simples e uma rotina pacata no bairro de Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Ainda menina, vivendo com os pais e dois irmãos, ela tinha muitas plantas em sua casa e precisava de longas caminhadas para fazer qualquer coisa na região. 

Já com mais de 90 anos, a mesma história termina em outra casa simples e com uma rotina ainda pacata. Apesar de Lea viver agora na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, as plantas continuavam a preencher o seu redor. Apenas as caminhadas, essas sim, ficaram mais escassas. 

A menina cresceu quietinha até virar mulher. Era tranquila, avessa a brigas e até meio medrosa, diz o filho, Pedro. Casou-se com Paulo, estudante de direito na época; se tornou professora, ensinando adolescentes; e teve dois filhos, o que a levou a deixar a carreira e se dedicar à casa.

Um divórcio, numa época em que divórcios não costumavam acontecer, fez Lea batalhar, sempre com a ajuda dos filhos. Apesar disso, nunca reclamava, mas resmungava devido à comida que “sumia” de seus armários, pelo custo dos remédios e pelas contas cada vez mais altas. 

Sua diversão era brincar com os netos, cuidar de suas inúmeras plantas e jogar baralho enquanto bebia martíni com a irmã Lia, hoje falecida. 

Mesmo com a idade avançada e alguns problemas de saúde, se recusava a deixar sua casa. Dizia que deserdaria o filho se fosse colocada numa casa de repouso —embora tivesse pouco a deixar.

Morreu dia 18, aos 94, por um problema cardíaco. Deixa um filho —um já é falecido—, seis netos e quatro bisnetos.