Presos se rebelam no AM e falam em protesto por morte de chefes de facção

Governo retomou o controle de presídio; não houve mortos nem feridos

Rosiene Carvalho
Manaus | UOL

Trinta detentos fizeram um motim por cerca de uma hora no CDPM 2 (Centro de Detenção Provisória Masculino 2), em Manaus, onde está preso o ex-governador do Amazonas José Melo (Pros) e outros três ex-secretários de Estado suspeitos de participarem de um esquema de desvio de dinheiro público da Saúde. Um agente penitenciário foi feito refém, mas já foi liberado.

A Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Amazonas) informou que, após retomar o controle do presídio, constatou que nada foi destruído nas celas e nenhuma reivindicação foi feita pelos detentos.

A nota da Seap informa que os detentos estavam armados com estoques (arma com ponta afiada improvisada por presos) e renderam o agente no momento em que o almoço estava sendo servido.

 

Os presos afirmaram à secretaria que o motim foi uma forma de protesto pela morte de chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital) "em âmbito nacional".

"Os detentos envolvidos na alteração não danificaram nenhuma cela e alegaram que a movimentação foi motivada pelos últimos acontecimentos, em âmbito nacional, envolvendo a morte de lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC),  facção criminosa da qual os presos do pavilhão 1 do CDPM 2 dizem ser integrantes", afirma trecho de comunicado da Seap.

Na quinta-feira (22), o integrante do PCC Wagner Ferreira da Silva, 32, conhecido como Cabelo Duro, foi morto a tiros de fuzil na zona leste de São Paulo.

O PCC participou da rebelião que terminou com o massacre de 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) no dia 1º de janeiro de 2017, quando José Melo era o governador do Estado.

Na ocasião, a Seap informou que a rebelião e os assassinatos violentos dentro do presídio foram motivados por disputa entre presos do PCC contra integrantes da facção Família do Norte (FDN).

Sem superlotação

O CDPM 2 é o único presídio do Estado do Amazonas em que não há superlotação. O Amazonas é apontado como o campeão em superlotação em presídios do Brasil pelo Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias) do Ministério da Justiça.

De acordo com informações do dia 22 de fevereiro do site da Seap, o CDPM 2 tem 571 vagas e 273 presos. 

De acordo com a Seap, os presos do pavilhão em que Melo está preso souberam do motim, mas não foram atingidos pela movimentação dos detentos do pavilhão 1.

A Seap informou que o pavilhão em que os políticos estão presos fica distante de onde estão os demais presos no CDPM 2. Ainda segundo a nota da secretaria, nenhum outro presídio do Estado teve qualquer registro de alteração neste final de semana.

Denúncia

O ex-governador José Melo, o ex-secretário de Fazenda Afonso Lobo, o ex-secretário de governo e irmão de José Melo Evandro Lobo e o ex-secretário de Saúde Pedro Elias estão presos preventivamente no CDPM 2.

Todos foram denunciados pelo MPF (Ministério Público Federal) e são suspeitos de se beneficiarem de um esquema que desviou cerca de R$ 100 milhões de recursos da saúde do Estado do Amazonas.

José Melo teve a prisão preventiva decretada junto com a da mulher dele, Edilene Oliveira, que está presa no Centro de Detenção Provisória Feminino.

Além da acusação de participar da organização criminosa, Melo e Edilene são acusados pelo MPF de tentar destruir provas e intimidar testemunhas das operações da Polícia Federal que foram batizadas de "Maus Caminhos", "Custo Político" e "Estado de Emergência".

Dados da CGU (Controladoria-Geral da União) apontam que o casal movimentava altas quantias em dinheiro para compra de imóvel e "reformas vultosas em sítio de sua propriedade", na região metropolitana de Manaus.

Segundo a denúncia, os valores são incompatíveis com o salário de governador, na época, de cerca de R$ 30 mil. No dia da operação, a PF apreendeu R$ 400 mil em espécie com Melo.

A juíza federal Jaiza Fraixe, que determinou a prisão preventiva do casal, na sentença, aponta que José Melo e Edilene eram líderes do esquema criminoso e que o ex-governador movimentou altos recursos financeiros em "dinheiro vivo"  para satisfazer os "caprichos" da mulher na reforma da mansão comprada em 2015 pelo casal.

Para apenas um dos responsáveis pela obra, foram pagos R$ 500 mil em dinheiro.

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