Descrição de chapéu Alalaô

Em desfile das campeãs, "Temer vampiro" aparece sem faixa presidencial

Protestos políticos voltaram à Sapucaí na noite deste sábado (17)

Rio de Janeiro
Destaque da Paraíso do Tuiuti, à esquerda, com a faixa presidencial durante o desfile da escola no domingo (11) e, à direita, sem a faixa durante o desfile das campeãs
Destaque da Paraíso do Tuiuti, à esquerda, com a faixa presidencial durante o desfile da escola no domingo (11) e, à direita, sem a faixa durante o desfile das campeãs - Fotomontagem
 

Os protestos políticos que marcaram o Carnaval de 2018 voltaram à Sapucaí na noite deste sábado (17), no desfile das escolas campeãs, e se espalharam pelas arquibancadas. No entanto, uma ausência chamou a atenção: no desfile da Paraíso do Tuiuti, vice-campeã, o destaque que representava o presidente Michel Temer (MDB) como vampiro desfilou sem a faixa presidencial na fantasia.

A escola de São Cristóvão foi a grande surpresa deste Carnaval e provocou muitas discussões em redes sociais com um enredo que questionava até que ponto a escravidão foi, de fato, extinta. 

Trazia referências à reforma trabalhista do governo Temer, a manifestantes que foram às ruas clamar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e ao próprio Temer, retratado como vampiro.

Ao ser questionado sobre o motivo do desfalque na fantasia do personagem, o presidente da escola, Renato Thor, disse que não sabia. Pressionado, disse que a reportagem estava sendo inconveniente e que procurasse a assessoria de imprensa. 

Segundo o diretor da Paraíso do Tuiuti, Thiago Monteiro, a retirada da faixa foi uma decisão da diretoria da escola e não teve pressão da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro). "Não houve pedido de quem quer que fosse para que retirássemos a faixa."

A decisão, disse ele, foi tomada na tarde de sábado, com o argumento de que o adereço personaliza a crítica e que não caberia em um evento comemorativo. "Já fizemos a crítica no desfile. Ontem era só celebração", afirmou Monteiro.

O homem que representou Temer disse, no final do desfile, que havia perdido a faixa. Logo que desceu do carro alegórico, teve fantasia e maquiagem retirados às pressas e foi escoltado por membros da escola para fora da avenida.

Antes do início do desfile, Thor disse, ao microfone, que a escola é "apartidária".

O público pareceu não notar a ausência da faixa e aplaudiu a escola do início ao fim, aos gritos de "é campeã".

 

Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, "não houve qualquer interferência da Presidência da República ou mesmo qualquer contato com escolas de samba".

Acrescentou uma novidade. Em carro alegórico que juntou representantes de todos os blocos de rua atuais do Rio, um integrante segurava um boneco embalado em saco plástico preto, simulando o Cristo coberto com os dizeres "olhai por nós, o prefeito não sabe o que faz".

Era uma referência à alegoria que Joãosinho Trinta tentou levar para a Sapucaí em 1989, do Cristo Redentor como mendigo. A igreja católica proibiu a referência e o carnavalesco cobriu a estátua com saco preto, e desfilou no sambódromo com os dizeres: "mesmo proibido olhai por nós". No desfile competitivo, o boneco só foi erguido no final, ao chegar à praça da Apoteose.

Um dos expoentes da Mangueira, Beth Carvalho, 71, a "madrinha do samba", não pôde participar do desfile principal da escola por questões de saúde, mas foi ao das campeãs.

Ela foi destaque num carro que representava a igreja da Candelária, na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, onde aconteciam os antigos desfiles de Carnaval. Passou a maior parte do tempo sentada, mas provocou alvoroço na plateia quando ficou de pé.

Beth Carvalho em carro alegórico no RJ
A cantora Beth Carvalho, 71, desfilou pela Mangueira no desfile das campeãs, no Rio de Janeiro - André Melo Andrade/Eleven/Folhapress

PROTESTOS

Três das seis escolas que desfilaram tinham enredos críticos: Mangueira, Beija-Flor e Paraíso do Tuiuti.

Nas arquibancadas, ao longo dos seis desfiles, surgiram cartazes e faixas com mensagens políticas. Também houve manifestações entre componentes das escolas.

Sem a obrigação cumprir o roteiro do desfile para os jurados, ergueram placas com críticas ao presidente Michel Temer (MDB) e ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e tido como "inimigo" do Carnaval.

Com o Rio sob intervenção federal na segurança pública, um grupo tentou invadir a pista após o último desfile, da Beija-Flor, com uma faixa que dizia "intervenção é golpe", mas foi contido por seguranças.

POLÍTICOS

Na ausência do atual prefeito, o ex, Eduardo Paes (MDB), deu as caras no desfile da Portela, escola pela qual ele torce. Animado, desfilou em frente à bateria e não quis falar com a imprensa.

Fã de Carnaval, Paes sempre marcou presença na Sapucaí. Em 2017, quando já não era mais prefeito, ele veio de Nova York, onde estava morando, para assistir ao desfile da Portela.

Além dele, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também assistiu aos desfiles de um camarote.

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