Descrição de chapéu Alalaô Rio de Janeiro

Sapucaí recebe hoje primeiro dia de desfiles do 'Carnaval da crise'

Escolas do Rio enfrentam corte de verbas e distanciamento dos foliões

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Ensaio da Mocidade, uma das duas escolas que puderam usar sambódromo antes da festa
Ensaio da Mocidade, uma das duas escolas que puderam usar sambódromo antes da festa - Luciola Villela - 04.fev.2018/ Folhapress
Luiza Franco
Rio de Janeiro

Se algum ano merece o título de "Carnaval da crise na Sapucaí", esse ano é 2018. Crises de identidade e financeira. Após difíceis 12 meses para as escolas de samba do Grupo Especial, elas vão para avenida neste domingo (11) reagindo ao que a comunidade do samba interpreta como ataque do prefeito Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ao Carnaval.

De quebra ainda têm que lidar com a perda de interesse do público pela festa.

Em algumas escolas, a defesa vem na forma de ataque. Este ano terá a maior safra de enredos de cunho político dos últimos tempos.

Quem assumiu a linha de frente do embate, dando nome ao "inimigo", foi o carnavalesco Leandro Vieira, da Mangueira, que decidiu fazer um enredo intitulado "Com Dinheiro Ou Sem Dinheiro Eu Brinco", desafio ao corte de subvenção das escolas feito pela prefeitura.

A Mangueira foi a única escola de samba carioca a assumir frontalmente uma oposição à gestão municipal.

Diante do que vê como um distanciamento do público dos desfiles, Vieira acredita que a saída seja falar de cultura popular. No ano passado, falou de fé; neste ano, falará do próprio Carnaval, mas o de rua, com blocos em carros alegóricos e referências a tradições como os bate-bola, nome pelo qual são conhecidos os foliões que tomam os subúrbios do Rio com uma algazarra de gritos, fogos de artifício e o som de bolas se chocando contra o asfalto.

Não houve reação tão veemente a Crivella da parte de nenhuma outra escola, mas nas entrelinhas dos enredos, há cutucadas.

A Beija-Flor, por exemplo, vem com um samba que parece endereçado ao prefeito: "Estenda a mão meu senhor/ Pois não entendo tua fé/ Se ofereces com amor/ Me alimento de axé/ Me chamas tanto de irmão/ E me abandonas ao léu/ Troca um pedaço de pão/ Por um pedaço de céu", diz o refrão.

O enredo, um paralelo entre o romance de terror "Frankenstein" (1818), da escritora Mary Shelley, que completa 200 anos em 2018, e o momento do Brasil, vai trazer vários elementos de crítica política e social. Alguns estão num plano mais genérico, como um rato representando políticos, outros, mais específicos ao Rio de Janeiro da crise, como o violência urbana, o sucateamento da rede de saúde e de educação.

A esperança da escola é que temas engajados atraiam um público mais jovem, que vem migrando nos últimos anos para o Carnaval de rua.

Mirando Brasília e o histórico escravocrata do país, a pequena escola Paraíso do Tuiuti, que só entrou para o Grupo Especial em 2017, vai lembrar os 130 anos da Lei Áurea (1888), que extinguiu a escravidão no Brasil, com críticas à reforma trabalhista aprovada na gestão do presidente Michel Temer (MDB).

Num tom menos combativo, mas ainda em diálogo com o contemporâneo, a Portela, atualmente comandada pela carnavalesca Rosa Magalhães, contará uma história de moral pacifista e falará sobre imigração.

ESCOLHAS 

Essas escolhas podem ser uma tentativa das escolas de samba de restabelecer contato mais próximo com o público, no ano mais difícil para a venda de ingressos na história da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Ri), como reconheceu à Folha seu diretor de vendas.

Entre as pessoas que acompanham e refletem sobre Carnaval, há um consenso de que elas vêm se afastando de suas bases há décadas.

Neste ano, as escolas não puderam fazer ensaios técnicos, pois a Liesa disse não ter verbas, o que também colaborou para distanciar as agremiações de foliões.

A solução para algumas das escolas de samba foi fazer ensaios nas ruas, como a Beija-Flor e a Imperatriz Leopoldinense. Apenas Mocidade e Portela, as campeãs de 2017, foram autorizadas a fazer ensaios técnicos na Sapucaí.

A questão da segurança é outro fator de incerteza na Sapucaí. Depois de um Carnaval em que acidentes em duas escolas deixaram uma pessoa morta e 35 feridas, a Sapucaí está desacreditada também do ponto de vista da esperança de um desfile sem risco aos componentes. As regras de fiscalização dos carros continuam as mesmas de sempre.

Uma mudança é que a Sapucaí vai ter uma versão da Lei Seca para motoristas de carros alegóricos. Os agentes da Lei Seca farão o teste do bafômetro nos condutores dos carros alegóricos e informarão à Liesa se os motoristas têm condições de dirigir ou não. A sanção ao condutor alcoolizado caberá à organização do evento decidir.

Aumenta as incertezas sobre como será este Carnaval o fato de que neste ano as escolas correram contra o tempo mais do que de costume. As dúvidas sobre liberação de verbas públicas –tanto municipais quanto federais, estas que foram prometidas, mas não vieram– e uma interdição por parte do Ministério do Trabalho encurtaram o tempo de trabalho.


DESFILES NO RIO

21h15 - Império Serrano

Enredo: O império do samba na rota da China

Carnavalesco: Fábio Serrano

22h20 - São Clemente

Enredo: Academicamente popular

Carnavalesco:

Jorge Luiz Silveira

23h25 - Unidos de Vila Isabel

Enredo: Corra que o futuro vem aí

Carnavalesco: Paulo Barros

0h30 - Paraíso do Tuiuti

Enredo: Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?

Carnavalesco: Jack Vasconcelos

1h35 - Acadêmicos do Grande Rio

Enredo: Vai para o trono ou não vai?

Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage

2h40 - Mangueira

Enredo: Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco

Carnavalesco: Leandro Vieira

3h45 - Mocidade Independente de Padre Miguel

Enredo: Namastê... A essência que habita em mim saúda a que existe em você

Carnavalesco: Alexandre Louzada

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