Descrição de chapéu Alalaô carnaval axé

'Velha guarda' garante continuidade do sucesso do axé em Salvador

Sem novos ícones desde Claudia Leitte, ritmo disputa com pagode e eletrônica

O cantor Bell Marques se apresenta no Farol da Barra
O cantor Bell Marques se apresenta no Farol da Barra - Elias Dantas - 8.fev.2018/Ag. Haack
João Pedro Pitombo
Salvador

O cantor Bell Marques não se cansa. Com sua tradicional bandana na cabeça e guitarra em punho, despontou no Farol da Barra às 18h da quinta (8) de Carnaval e só vai parar na terça (13), após seis desfiles consecutivos.

Aos 65 anos, o antigo vocalista do Chiclete com Banana sintetiza o atual momento da axé music no Carnaval de Salvador: ritmo com lugar garantido nos trios elétricos, mas que tem artistas veteranos como seus principais ícones.

Bell Marques, 65, e Carlinhos Brown, 55, completarão no próximo ano 40 Carnavais. Foram seguidos por Durval Lélys, 60, Daniela Mercury, 52, Ivete Sangalo, 45, Saulo Fernandes, 40, e Claudia Leitte, 37 –última grande cria dos trios elétricos que começou a fazer sucesso em 2001.

Por trás do atual momento da axé music está a trajetória de uma indústria que deu seus primeiros passos nos anos 1980, chegou ao auge no final dos anos 1990 e começou a entrar em declínio a partir da década de 2010.

O declínio fez com que não houvesse renovação dos artistas. Os jovens que hoje se dedicam ao axé são remanescentes de velhas estruturas, caso de Felipe Pezzoni, da Banda Eva, e de Rafa e Pipo Marques, filhos de Bell.

Por outro lado, o Carnaval se abriu para outros ritmos de matriz baiana, como o arrocha e o pagode, que ganharam o público e emplacaram a maioria dos hits dos Carnavais recentes –de "Rebolation" em 2010 a "Santinha" em 2017, passando por "Lepo  Lepo" em 2014 e "Metralhadora" em 2016.

Claudia Leitte na abertura do Carnaval de Salvador
Claudia Leitte na abertura do Carnaval de Salvador - Elias Dantas/Ag. Haack

Filho dos sambas de roda da Bahia, o pagode baiano é o ritmo que mais ganha espaço. A vertente carnavalesca que surgiu nos anos 1990 com o É o Tchan e consolidou-se nos anos 2000 com o Harmonia do Samba.

Leo Santana, 29, é o principal expoente da nova geração. Com sucessos como "Santinha", tornou-se um dos artistas que mais mobiliza o público no Carnaval de Salvador. Na quinta (8), foi acompanhado por multidão em trio sem cordas e na sexta (9) estreou no tradicional bloco Nana Banana.

Enquanto o pagode protagoniza o mainstream, a porta se abre para sons mais alternativos –a Baiana System faz quatro apresentações e se tornou um dos desfiles mais concorridos do Carnaval.

Neste ano, a banda Àttooxxá surge como novidade, misturando pagode com batidas eletrônicas em Elas gostam (popa da bunda), em parceria com o Psirico.

"É momento muito bom. A Bahia começa a sair da monocultura para voltar a uma diversidade que sempre foi a sua marca", diz o produtor artístico Andrezão Simões.

REPERTÓRIO

Se o axé anda em baixa no quesito indústria, o mesmo não se pode dizer da força musical no reinado de Momo.

Como apontado em reportagem da Folha, o ritmo não figura entre as dez canções mais ouvidas no período de Carnaval desde 2013, segundo levantamento feito pelo Google no Youtube.

Por outro lado, o repertório construído ao longo de três décadas de axé se firmou, ao lado das marchinhas, como importante trilha sonora da folia em todo o país.

Não à toa, em 2017, Carlinhos Brown foi o artista que mais arrecadou direitos autorais no Carnaval no Brasil, segundo o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Brown não compõe "música do Carnaval" desde "Cadê Dalila", lançada em 2009 na voz de Ivete Sangalo, mas tem repertório próprio de mais de 400 músicas.

Outros compositores baianos como Bell Marques, Durval  Lélys, Manno  Góes e Saulo Fernandes ficaram entre os dez que mais arrecadaram no país no Carnaval do ano passado. A maioria deles amparada em sucessos de antigos Carnavais.

É com base nesse repertório de clássicos que o axé segue sobrevivendo, seja nas fanfarras, nos blocos de rua ou nos trios elétricos.

Diz a cantora Claudia  Leitte: "O axé é muito forte. Não tem como fugir da tradição, o coração do Carnaval é a música baiana."

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado anteriormente, Carlinhos Brown tem 55 anos, e não 65

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