Comandante do Exército vê crescer importância da intervenção após crime

General Villas Boas afirmou que ação militar teve pouca visibilidade até aqui

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Manaus

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou nesta sexta-feira (16) que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), na noite de quarta-feira (14), reforça a necessidade da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, decretada há um mês.

"O assassinato aumenta a importância da intervenção”, disse Villas Bôas, durante evento militar em Manaus, ao ser questionado pela Folha sobre o impacto do crime na intervenção.

"Esse crime é mais um de tantos milhares que afetam o dia a dia da população. Portanto é um trabalho extremamente detalhado. Tem de ser amplo, profundo e de longo tempo para nós recuperarmos a percepção de segurança de que a população brasileira precisa”, completou.

Veja o que já se sabe sobre o assassinato da vereadora Marielle

Sobre o primeiro mês da intervenção, Villas Bôas afirmou disse que a atuação militar teve pouca visibilidade até agora: “Os problemas, pela sua profundidade, exigem estudos e planejamento detalhado. Mas acreditamos que, agora, no prosseguimento, os resultados começarão a surgir.”

Villas Bôas esteve na capital do Amazonas para participar de troca na chefia do Comando Militar da Amazônia. Após dois anos, o general Geraldo Antonio Miotto passou o cargo para o colega César Augusto Nardi de Souza. 

O general do Exército, Eduardo Villas Bôas, 66, comanda 215 mil homens
O general do Exército, Eduardo Villas Boas, 66, comanda 215 mil homens - Tomaz Silva - 24.jul.2016/Agência Brasil

Crime

O assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. 

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.


OUTROS FATOS

1. Tiros
Foram encontradas no local nove cápsulas de calibre 9 milímetros, de uso restrito das forças de segurança; no total foram disparados 13 tiros, mas quatro deles não atingiram o carro

2. Munição
As cápsulas pertencem ao lote UZZ-18, comprado em dez.2006 pela PF de uma empresa privada; é o mesmo lote da munição usada na chacina de Osasco e Barueri (Grande SP), em 2015

3. Vídeo
Câmeras registraram dois homens dentro de um carro estacionado por duas horas em frente ao local onde Marielle participava do debate; os suspeitos foram vistos falando ao celular

4. Carros
Quando ela sai do evento, esse veículo faz sinais com o farol a um segundo veículo, e ambos deixam o local atrás do carro dela; um desses carros teve a placa adulterada, segundo a polícia


A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado --neste ano já são 26.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016).

Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu –estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

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