Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Sob pressão, Exército faz ações em série e patrulha pontos turísticos do Rio 

Militares patrulham zona norte, regiões movimentadas e presídio de Bangu 3

Três policiais do Exército, empunhando armas, fazem patrulha na orla de Copacabana
Polícia do Exército patrulha a orla de Copacabana, na zona sul do Rio - Ricardo Borges/Folhapress
Sérgio Rangel Luiza Franco
Rio de Janeiro

Sob pressão para apresentar resultados da intervenção federal na segurança pública do Rio, as Forças Armadas mudaram de estratégia e fizeram nesta terça-feira (27) uma série de ações simultâneas em busca de visibilidade.

No maior efetivo empregado desde que começou a intervenção, em 16 de fevereiro, 3.700 militares fizeram operação contra roubo de cargas, varredura em presídios, inspeções em batalhões da PM e patrulhamento ostensivo.

Os resultados, porém, eram tímidos no começo da noite.

Áreas turísticas e movimentadas, como a praia de Copacabana, em frente ao hotel Copacabana Palace, também tiveram a promessa de reforço, como parte da tentativa da intervenção de mostrar trabalho —mas com um efetivo que se limitava à tarde a seis viaturas da Polícia do Exército.

“Mal vi que estavam aqui. Não mudou nada na segurança. Já estava ruim e continua assim”, afirmou João Carlos dos Santos, 38, vendedor que trabalha na avenida Presidente Vargas, onde uma viatura atuou durante a manhã.

Os outros pontos selecionados foram a avenida Rio Branco (centro) e a orla de Botafogo, na altura do Botafogo Praia Shopping, onde uma tentativa de assalto a loja havia terminado em tiroteio sem feridos na noite anterior.

Só no conjunto de favelas do Complexo do Lins, na zona norte, cerca de 3.400 homens foram mobilizados na ação contra roubo de carga.

Os resultados divulgados, no entanto, não citavam a prisão de nenhum nome de peso ligado ao tráfico nem a apreensão de fuzis ou de drogas em grande quantidade.

O balanço citava 24 presos (sendo 16 por cumprimento de mandados), apreensão de 10 kg de maconha (além de cocaína e crack), duas pistolas calibre 9 mm, um revolver, munições, oito radiocomunicadores, dez carros e 11 motos usados pelo tráfico.

O interventor Walter Braga Netto, general do Exército, atua como chefe das forças de segurança —é responsável tanto pela Segurança Pública como pela Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob seu comando.

Segundo pesquisa Datafolha feita na semana passada, a intervenção tem apoio de 76% dos moradores da cidade do Rio. A maioria, porém, avalia que a ação do Exército até agora não fez diferença no combate à violência (71%).

CRIMES VIOLENTOS

A nova estratégia dos militares ocorre após sequência de crimes violentos e críticas sobre a falta de rumo nos 40 dias de intervenção federal.

Só no último final de semana foram ao menos oito mortos na Rocinha e cinco jovens assassinados em Maricá, na região metropolitana do Rio.

Além da ação no Complexo do Lins, os militares também fizeram uma varredura no presídio Bangu 3, na zona oeste, onde estão detidos chefes do Comando Vermelho —mesmo presos, eles continuam comandando a facção.

O objetivo era apreender materiais ilícitos ou não autorizados, como telefones celulares, antenas e roteadores. No final do dia, foi divulgada a apreensão de um celular.

Também aconteceram inspeções em três batalhões da Polícia Militar: Batalhão de Polícia de Choque, no centro, Batalhão de Ações com Cães, na zona norte, e Grupamento Aeromóvel, em Niterói, na região metropolitana.

No início da madrugada, no Complexo do Lins, houve tiroteio quando integrantes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), grupo de elite da Polícia Civil, entraram em uma das comunidades do complexo. 

A estrada Grajaú-Jacarepaguá, uma das vias mais movimentadas da cidade, foi fechada. O CML (Comando Militar do Leste) disse que a ação envolveu cerco, estabilização dinâmica da área e desobstrução de vias. O espaço aéreo da região foi fechado.

O Exército realizou uma operação semelhante no Complexo do Lins no ano passado e não obteve sucesso. A operação vazou e traficantes da região conseguiram fugir.

A região é uma das mais violentas da cidade. Além do tráfico de drogas, bandidos da região também praticam roubos de cargas e veículos.

PRÓXIMOS MESES

O principal exemplo da atual falta de rumo da intervenção foi a favela Vila Kennedy, na zona oeste, anunciada como uma espécie de laboratório da intervenção.

A experiência durou pouco, e as Forças Armadas anunciaram que irão deixar a favela antes de conseguir capturar chefes do tráfico local ou aprender quantidade representativa de armas e drogas.

No período de um mês na região, os militares protagonizaram uma corrida de gato e rato com bandidos, que colocavam de noite as barreiras retiradas de dia pelas tropas.

Crime de maior repercussão desde que começou a intervenção, a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, completará duas semanas nesta quarta (28) sem resultados concretos da investigação —até aqui, nada se sabe sobre os criminosos e a motivação do crime.

"[A morte de Marielle] foi um desafio ao governo federal, foi um desafio à intervenção federal e é natural que haja essa dúvida, essa grande interrogação sobre a eficácia da intervenção federal. O primeiro resultado objetivo, como sentimento de Justiça, sentimento de opinião pública, de efeito de política importante, será resolver o caso da vereadora", disse nesta terça o ministro da Justiça, Torquato Jardim. 

O Gabinete de Intervenção Federal afirma que as ações seguem estratégia traçada pelo interventor e que os primeiros resultados serão sentidos nos próximos meses.

Ele diz que são implementadas ações “emergenciais e estruturantes” para reduzir “progressivamente” os índices de criminalidade e fortalecer as polícias e os policiais.

 

ENTENDA A INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO

O que é a intervenção federal?
Um poder excepcional que permite que a União interfira nos estados em alguns casos. A intervenção está prevista na Constituição de 1988 e, desde então, essa é a primeira vez em que é usada. Na prática, no Rio, o interventor Walter Souza Braga Netto assumiu o controle da Secretaria de Segurança Pública e das polícias, mas sem estar subordinado ao governo do estado.

Qual o é o objetivo da intervenção?
Reduzir os índices de criminalidade e recuperar a estrutura e eficiência das polícias Civil e Militar do estado.

A intervenção tem um plano de ação?
Oficialmente, ele não foi apresentado. Até o momento, a intervenção fez cercos em favelas com o apoio de militares da Forças Armadas e com a polícia. Também houve vistoria em presídio e bloqueios em estradas de acesso ao Rio.
A favela da Vila Kennedy, na zona oeste, foi alçada a laboratório, com patrulhas diárias dos militares. Após um mês de operações, porém, o governo anunciou que pretende deixar a comunidade até o início de abril. 

A intervenção foi decidida às pressas pelo governo Temer?
Ao que tudo indica, sim. O interventor, depois de nomeado, levou uma semana para escolher sua equipe. 

Desde quando as Forças Armadas estão no estado?
Em 28 de junho, as Forças Armadas receberam autorização presidencial para atuar na segurança pública do Rio. O arcabouço jurídico para isso foi um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

Os militares têm prazo para deixar o estado?
A intervenção irá durar até 31 de dezembro, segundo decreto do presidente Temer. Para continuar, terá de ser decretada pelo próximo presidente do país, a ser eleito neste ano.

Qual é a situação do Rio em comparação a outros estados do país?
Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

A polícia já tem pistas dos assassinos da vereadora Marielle?
A polícia ainda busca indícios do caso. Por enquanto, publicamente, sabe-se que Marielle foi seguida após participar de debate sobre racismo no dia do crime. 

Colaboração do Uol

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