Maia leva 12 horas para comentar morte de vereadora e mantém agenda

Deputado não deve ir a velório no Rio, mas irá à Paraíba como pré-candidato à Presidência

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Brasília

Pré-candidato à Presidência da República, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), levou quase 12 horas para se manifestar sobre o assassinato de Marielle Franco (PSOL), vereadora da capital de seu estado, e do motorista Anderson Pedro Gomes.

Além disso, até a publicação desta reportagem, na manhã desta quinta-feira (15), Maia não tinha previsão de ir ao velório de Marielle, na Câmara do Rio de Janeiro, segundo informaram auxiliares do presidente da Câmara.

A agenda de pré-campanha de Maia, na Paraíba, está mantida até o momento.

No Facebook, Maia disse nesta manhã que os assassinatos ocorridos na noite de quarta-feira (14) significam um trágico avanço na escalada da barbárie que deve ser contida custe o que custar.

“Solidarizo-me à sua família, à família do Anderson, e exijo junto com eles: justiça e paz. Justiça para conter os autores dessa execução, paz para a sociedade carioca e brasileira”, afirmou o presidente da Câmara.

A vereadora e o motorista do carro em que estavam foram baleados na noite de quarta e ambos morreram. Uma assessora que os acompanhava sobreviveu.

Nesta manhã, a previsão era de que Maia fosse a uma reunião de seu partido. Depois disso, a agenda oficial prevê um almoço na Embaixada da França em homenagem ao deputado.

À noite, como pré-candidato, Maia tem um jantar com empresários e parlamentares paraibanos em João Pessoa (PB). Na sexta-feira (16), a previsão é que ele vá ao interior da Paraíba e siga para o Rio de Janeiro somente à noite.

A Folha procurou Maia na noite de quarta e na manhã desta quinta-feira, mas não obteve resposta.

INTERVENÇÃO

O assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe das forças de segurança do estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. 

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.

Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu –estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros estados com patamares ainda piores.

No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

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