Descrição de chapéu Obituário Luiz Carlos Costa (1935 - 2018)

Mortes: arquiteto Luiz Costa lutou por uma cidade mais democrática

Acreditava no poder das audiências públicas e integrou o Defenda SP

Francesca Angiolillo
São Paulo

“Por que os problemas da principal cidade do país se agravam ao longo de décadas, enquanto os imensos recursos tecnológicos hoje disponíveis provocam avanços em outros campos da ciência e da economia?”

Eis uma questão que Luiz Carlos Costa sempre se colocava; parecia-lhe incongruente que o mundo melhorasse, mas sua amada São Paulo natal, não. Professor aposentado da FAU-USP, onde se graduou, tornou-se mestre e doutor, ele fez da cidade seu tema.

Bateu-se sempre em defesa de que ela se desenvolvesse segundo um planejamento racional e inclusivo, que protegesse seus recursos e seus moradores, sobretudo os menos privilegiados, da especulação imobiliária.

Argumentava que o povo devia ser ouvido nos processos para implementar um Plano Diretor democrático —acreditava no poder das audiências públicas e participou ativamente de movimentos como o Defenda São Paulo.

Foto mostra o arquiteto Luiz Carlos Costa sentado de camisa e bermuda, sorrindo, em banco de madeira no parque do centro Inhotim, perto de BH
O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Costa (1935-2018) em Inhotim - Acervo Pessoal

Escreveu vários artigos sobre urbanismo, alguns para a Folha, e mantinha um blog como maneira de expressar seus pontos críticos a respeito do Plano Diretor e de participar do debate público.

Arquiteto de inspiração modernista, reformou várias casas, inclusive aquela onde vivia com sua mulher, Maria de Lourdes, sempre na companhia de um cão pastor-alemão —foram quatro em sucessão. 

Comprada há mais de 50 anos, a casa no Pacaembu tornou-se nos anos 1970 ponto de encontro para os amigos. Costa costumava passear pelo bairro de mãos dadas com Lourdes, advogada com quem dividiu 57 anos de vida e a paixão pela cidade.

Muito curioso, gostava de fazer perguntas e mais perguntas aos garçons, aos motoristas e aos amigos das três filhas —uma das quais ouviu de um gerente de banco que os funcionários da agência disputavam quem iria atender aquele cliente sempre bem-humorado e sorridente.

Até poucos anos atrás, gostava de remar no mar perto da Barra do Sahy, onde tinha uma casa, protegido por um chapelão de palha que, ao lado da barba e da fronte ampla, o fazia parecido ao escritor Ernest Hemingway.

Tinha problemas nos rins e foi internado por causa de uma infecção, de cujas complicações morreu na sexta (9), aos 82. Seu corpo foi enterrado no sábado (10), em São Paulo. Deixa Lourdes e as filhas, Camila, Flávia e Paula —esta, ombudsman da Folha e mãe de Bento, seu único neto.

Deixa também o cão Samba e um livro sobre arquitetura e urbanismo, ao qual, após muita reescrita, dizia faltar apenas um capítulo.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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