Benedito era uma criança grande. Tinha sim rugas no rosto, o andar vagaroso e artrose nas mãos, mas ainda era o campeão de dominó da família. Aquele que certo dia sujou toda uma parede jogando estalinho e que tomava banho de mangueira com os netos.
Sua molecagem provocava surpresa nos filhos e eventuais broncas da mulher, Mercedes. Ao que ele respondia com um sorriso maroto e o famoso “você me desculpa?”. Houve momentos em que correu da esposa como se um corretivo fosse ser aplicado.
Nascido em Ribeirão Claro, interior do Paraná, ele migrou ainda bebê para São Paulo com a mãe recém-viúva. Logo ganhou um padrasto, mas os desentendimentos entre os dois fizeram o menino sair de casa aos dez anos. Encontrou pouso com os avós maternos.
Tendo que trabalhar, iniciou um ofício já nessa época, cortando couro para fazer sapatos. Passou por várias fábricas, achando Mercedes, “sua dona”, em uma delas, costurando seus cortes de couro.
Quando explicava o apelido carinhoso, “minha dona”, Benedito dizia que ela era a dona de seu coração. Aquele coração generoso e brincalhão, mas que dava trabalho e teimava em falhar às vezes.
Após o primeiro infarto, os médicos disseram que não teria jeito, mesmo com muito cuidado, ele não teria mais do que cinco anos de vida. Acabou que foram mais de 30, apesar de alguns sustos.
O coração, que Benedito dizia bater diferente por conta dos stents, voltou a falhar dia 5 e, dessa vez, ele não resistiu. Morreu aos 69 anos, deixando a mulher, duas filhas, dois genros e dois netos —a terceira ainda a caminho.
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