"Se alguém vier para São Jorge e não tomar uma cachaça com o Seu Claro na varanda dele batendo um papo, não veio."
Se a declaração soa pretensiosa a alguém, já se deduz que esse alguém não conheceu Seu Claro.
Tampouco sua varanda, onde tradicionalmente termina o único bloco de Carnaval da vila que é distrito de Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros.
Nascido na também goiana Mambaí, Claro chegou à região aos 24, órfão, em busca de fazer fortuna com o garimpo de cristal. "Eu vim para ficar rico", costumava contar.
A casa antiga em que montou sua mercearia após o auge do garimpo é parada indispensável na região há quase 30 anos. Vendia desde arroz até lasca de cristal.
Extremamente tranquilo, Seu Claro recebia os clientes deitado em uma rede dentro da venda. Gentil, sentava para conversar na varanda com quem quer que aparecesse.
O local logo se tornou um informal espaço para eventos. Terminado o dia, as pessoas iam para a varanda conversar com Seu Claro, tomar cerveja e a tradicional cachaça com arnica, tocar violão. As rodas duravam até o amanhecer.
No Carnaval, Seu Claro e sua venda chegaram a ser tema de enredo de marchinhas do bloco local. A varanda recebia os foliões por volta das 18h e, de lá, só saíam por volta da meia-noite, ou quando alguém os expulsasse.
Morreu no dia 1º, aos 90. Apesar da idade avançada, sua saúde era boa --foi um acidente em sua garagem que o levou à internação e posterior morte. Deixa oito filhos, netos e bisnetos. E nessa região da Chapada, um vazio.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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