Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Tiroteio na Rocinha mata PM e morador, e RJ tem 3 policiais mortos em 1 dia 

Traficantes e policiais de UPP entraram em confronto na noite desta quarta (21)

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Rio de Janeiro

Um policial militar e um morador foram mortos na noite desta quarta-feira (21) na Rocinha, na zona sul do Rio. Ambos foram baleados durante um tiroteio iniciado no Largo do Boiadeiro.

O PM morto é o terceiro em um único dia: além dele, morreram nesta quarta um sargento na Baixada Fluminense e um cabo na região dos Lagos (este, durante a folga).

Esse é mais um dia de violência no Rio em meio à intervenção federal na segurança pública do estado. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto, que atua como chefe das forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

Rocinha

O confronto entre traficantes e policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) teve início por volta das 20h15. De acordo com policiais do 23º BPM (Leblon), as vítimas foram socorridas para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiram.

O morador morto foi identificado como Antonio Ferreira da Silva, conhecido como Marechal na comunidade. Ele tinha uma barraca na região conhecida como Valão.

O nome do PM ainda não foi divulgado.

Nas redes sociais, moradores relataram outros confrontos em diferentes localidades da Rocinha após as mortes. O tiroteio recomeçou no Largo do Boiadeiro pouco antes das 21h10 e durou cerca de 20 minutos.

O policial da UPP da Rocinha foi o terceiro militar morto nesta quarta. Pela manhã, o sargento Maurício Chagas Barros, 37, foi assassinado durante uma operação no Gogó da Ema, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. 

Além deles, o cabo Luciano Batista Coelho, 39, morreu no Largo Santo Antônio, em Cabo Frio, na região dos Lagos. Ele tentou impedir um assalto numa loja de departamentos por volta das 19h e foi atingido por disparos dos criminosos. Coelho estava de folga e trabalhava como segurança de uma farmácia na região.
  

Com as três mortes, o Rio contabiliza 30 policiais militares mortos em 2018. 

Por causa do confronto, o túnel Zuzu Angel ficou fechado por mais de meia hora. O túnel liga a Gávea até São Conrado.

Desde o decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio, o Exército ainda não fez nenhuma operação na comunidade, uma das maiores da zona sul da cidade.

Temer

O conflito na Rocinha ocorreu cerca de duas horas antes de o presidente Michel Temer aterrissar no Rio para uma reunião com o interventor federal, general Walter Braga Netto.

O encontro, a 15,5 quilômetros da favela carioca, foi organizado para que o presidente tomasse pé das ações da intervenção até agora.

O presidente fez pronunciamento à imprensa por volta das 23h15. Temer prometeu liberar cerca de R$ 1 bilhão para a intervenção em dois ou três dias. 

Segundo Temer, a intervenção irá, no futuro breve, reduzir os índices de criminalidade no Rio. "Tudo revela que poderá haver uma tendência de queda nas várias espécies delituosas. Não restou dúvida em relação a isso. Ao longo do tempo isso realmente ocorrerá", disse o presidente. 

Participaram do encontro o ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, o ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da presidência, Sérgio Etchegoyen.  

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, também esteve no encontro. Já o general Braga Netto, apesar da participação na reunião, não esteve presente no pronunciamento. A imprensa não teve oportunidade de fazer perguntas. 

O presidente afirmou que a reunião desta quarta-feira foi a primeira de várias que devem ocorrer daqui para frente. Temer destacou também a ação social apoiada pelo Exército na Vila Kennedy, zona oeste, no último final de semana, em que foram prestados diversos serviços pelo governo e a prefeitura, numa espécie de mutirão. 

"Não basta combater a criminalidade se não cuidarmos das questões sociais", disse. 

O presidente fez nesta quarta-feira a primeira visita ao gabinete de intervenção federal. Foi a segunda visita ao Rio desde o decreto que passou o comando da secretaria estadual de Segurança Pública a um militar da ativa, em 19 de fevereiro. 

A ideia inicial seria visitar a capital fluminense quando o decreto completasse um mês, no último domingo (19), mas o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) na semana passada o fez adiar os planos. O objetivo da visita seria passar uma mensagem positiva para a população, destacando a esperada queda nos índices de violência em razão da atuação federal.

Há a expectativa quanto às promessas da intervenção. O principal objetivo é reduzir a capacidade operativa das polícias, além de reduzir os índices de criminalidade. A Vila Kennedy foi alçada a laboratório da intervenção mas, conforme a Folha mostrou na última terça (20), os militares já preparam a retirada das tropas da favela. 

A intervenção aguarda ainda a liberação de recursos. No início desta semana, os interventores estimaram em R$ 3,1 bilhões o rombo na segurança pública do estado. Desse total, R$ 1,6 bilhão seria apenas para pagar dívidas do estado com fornecedores e servidores. O R$ 1,5 bilhão restante seria utilizado no investimento para reforço da estrutura policial.

Crise

Desde setembro, a Rocinha tem sido palco de tiroteios e assassinatos em virtude da disputa territorial pelo comando da venda de drogas entre os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério 157.  A disputa já deixou quase 30 mortos desde então.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado.

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente neste ano, 30 PMs foram assassinados no estado —foram 134 em 2017.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.

Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu —estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros estados com patamares ainda piores.

No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

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