1 em cada 3 moradores do Rio afirma já ter ficado no meio de confrontos a tiros 

Segundo pesquisa Datafolha, 92% dos cariocas dizem ter medo de bala perdida 

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Luiza Franco Júlia Barbon
São Paulo

Depois de uma festa na noite de sábado (24), o guarda de rua Miguel, 36, chegava em casa, na favela do Fallet, em Santa Teresa, quando viu que havia policiais na sua rua. Logo depois, começou um tiroteio.

Sem poder se aproximar de casa, foi para a de sua mãe, numa parte mais alta do morro. Ficar no fogo cruzado entre PMs e suspeitos era justamente o maior temor de Miguel (nome fictício). Ele compartilha esse medo com quase toda a população do Rio.

Pesquisa Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que nove em cada dez moradores da cidade do Rio têm medo de tiroteio, bala perdida ou de morrer em um assalto. Também mostra que, assim como Miguel, um terço esteve no meio de um confronto nos últimos 12 meses.​

Com a escalada de crimes, o estado do Rio está sob intervenção federal na segurança pública desde 16 de fevereiro. A intervenção foi decretada pelo presidente Michel Temer (MDB), que escolheu o general do Exército Walter Braga Netto como interventor.

A pesquisa, realizada de 20 a 22 do mês passado, aponta que 73% dos moradores do Rio gostariam de deixar a cidade por causa da violência. E indica exatamente o que os moradores da capital temem.

O medo está em todas as partes da cidade. Moradores de favelas ou de outras áreas temem da mesma forma estar em um tiroteio, ser atingidos por bala perdida e morrer ou se ferir em um assalto.

Entre esses dois grupos, a principal diferença está no medo de ser vítima de violência das polícias, ser acusado de um crime e ter um filho preso injustamente.

Segundo o levantamento, com margem de erro de três pontos percentuais para mais e para menos, ter objetos de valor tomados à força num assalto, morrer assassinado, ser vítima de fraude, ter o celular roubado e ter sua casa invadida são situações temidas por 84% a 89% dos entrevistados.

Quando se fala em estar no meio do fogo cruzado entre bandidos e polícia, a diferença entre o receio e a concretização desse temor é estreita: 39% acreditam que há muita chance de isso acontecer, enquanto 30% estiveram de fato nessa situação no último ano. Três em cada quatro ainda relatam ter ouvido um tiroteio nesse período.

Segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as respostas refletem as particularidades da violência no Rio em comparação com outras cidades.

"Alguns dos temores de moradores do Rio são similares ao da população do resto do país, como ter a casa invadida, se envolver em brigas e receber uma ligação de bandidos exigindo dinheiro", diz.

"Mas, no Rio, o medo é mais difuso. As pessoas têm medo mesmo em lugares onde deveriam se sentir seguras, como em casa. Vemos isso na proporção de pessoas que temem ser vítimas de bala perdida [92%]."

violência

O Rio é a capital com maior número absoluto de crimes violentos do país —foram 1.446 assassinatos em 2016. Proporcionalmente, contudo, a cidade é a 21ª capital mais perigosa, com taxa de 22,6 mortes por 100 mil habitantes.

O mesmo índice, por exemplo, é três vezes maior em Aracaju (66,7), a campeã em crimes violentos intencionais letais no país, seguida de Belém, Rio Branco e Macapá.

Os dados frios de assassinatos, porém, escondem uma série de meandros que fazem com que a sensação de insegurança ganhe grandes proporções no Rio.

Assim como em outras capitais violentas, morre-se mais na periferia do que nas regiões centrais. No entanto, agravam o medo a geografia acidentada, que faz bairros turísticos e violentos viverem lado a lado, e o constante fechamento de vias expressas por onde trafega a maioria dos moradores.

Samira destaca ainda a situação particular da polícia local. "A existência de milícias e a militarização excessiva da PM, que muitas vezes atira quando não deveria, deixam a população sem saber como a polícia vai agir em situações de risco, o que aumenta o medo", diz a pesquisadora.

A pesquisa também aponta uma relação entre as situações violentas que as pessoas já viveram e seu apoio ou rejeição à intervenção federal.

Entre os contrários à intervenção, 35% se viram em um fogo cruzado no último ano, enquanto 29% dos favoráveis vivenciaram a mesma experiência —o resultado está no limite da margem de erro, mas com empate improvável.

A relação vale principalmente para quem foi agredido pela PM: 17% dos que são contra a intervenção foram vítimas de violência da PM, contra 4% dos apoiadores da ação de Temer.

Dados dessa mesma pesquisa divulgados no domingo (25) mostraram que 76% dos moradores do Rio aprovam a intervenção. A maioria, porém, avalia que a presença do Exército desde fevereiro não fez diferença no combate à violência na cidade (71%).

 
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