Descrição de chapéu Mobilidade urbana

Cidade de SP prepara testes para vias pró-pedestre e antivelocidade 

Segundo a estratégia, todo acidente grave e com mortes pode ser evitado

Vítima de acidente de trânsito é socorrida na região do Cebolão
Vítima de acidente de trânsito é socorrida na região do Cebolão - Robson Ventura - 16.mar.2017/Folhapress
Fabrício Lobel
São Paulo

Criação de faixas de pedestres elevadas, avanço de calçadas sobre as pistas, diminuição da área usada pelos carros para fazerem curvas.

Medidas do tipo, que priorizam pedestres e incentivam a redução de velocidade dos veículos, serão testadas em algumas ruas e avenidas pela Prefeitura de São Paulo.

Sob críticas de especialistas em segurança viária, a administração João Doria (PSDB) ficou marcada em seu primeiro ano pelo aumento dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros —onde as mortes subiram ao menos 23% em 2017.

Agora, com Bruno Covas no comando a partir desta sexta (6), prepara ações dentro da estratégia mundial batizada de Visão Zero, que tem como princípios a ideia de que todo acidente grave e com mortes no trânsito pode ser evitado e que as pessoas invariavelmente cometerão erros, mas a cidade deve estar preparada para isso.

As primeiras vias que deverão sofrer alterações são a avenida Carlos Caldeira Filho, a estrada de Itapecerica (ambas na zona sul), a avenida Celso Garcia e a região central de São Miguel Paulista (ambas na zona leste).

VELOCIDADE

A Visão Zero começou a ser difundida no fim da década de 90, após a experiência da Suécia na redução de suas mortes no trânsito. O país percebeu que só educação, treino de novos motoristas, fiscalização policial e novas leis não eram suficientes.

Uma nova abordagem foi proposta visando aumentar a segurança dos equipamentos nos carros, adequar as velocidades das vias, criar áreas de baixa velocidade e até redesenhar trajetos nas ruas, faixas de pedestres e calçadas.

Os novos desenhos de vias forçam, por exemplo, que apenas um motorista por vez consiga fazer uma conversão de uma rua para a outra dentro de um bairro —obrigando a redução da velocidade para prestar mais atenção a eventuais pedestres.

Outra ideia é avançar a calçada na pista em determinados pontos para diminuir a distância percorrida por pedestres ao atravessar a rua.

Com esse método, a taxa sueca de mortes no trânsito caiu para 3 a cada 100 mil habitantes —contra 19,2 no Brasil e 7,07 na capital paulista.

Cidades como Nova York, Los Angeles, São Francisco e Londres e, mais recentemente, Bogotá e Cidade do México adotaram ações semelhantes e bem-sucedidas.

Sergio Avelleda, secretário municipal de Transportes, diz que agora elas serão implantadas em São Paulo.
Embora em muitas cidades a metodologia tenha sido acompanhada da redução das velocidades máximas em áreas urbanas, a prefeitura diz que não cogita isso para as pistas das marginais.

“Não vejo contradição nenhuma [entre adotar a Visão Zero e manter velocidades mais altas na Pinheiros e na Tietê]. Cada uma das vias na cidade tem a sua função. As marginais são vias expressas, estruturadas, distantes de imóveis lindeiros”, afirma. “Inclusive, nas faixas próximas a imóveis lindeiros, nós mantivemos os 50 km/h.”

O aumento dos limites nas marginais era uma promessa eleitoral de Doria —que, agora, deixa o cargo para concorrer ao governo paulista.

PLANO

A ideia da gestão tucana é que, em um ano, consiga elaborar um plano de segurança viária para toda a cidade.

Entre as propostas estão metas específicas de redução de acidentes graves de cada uma das 8 gerências regionais da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

A meta da gestão é reduzir a taxa de mortes no trânsito dos atuais 7,07 para 6 mortes a cada cem mil habitantes.

“A engenharia de tráfego, até o final do século 20, foi permeada pela fluidez [em detrimento da segurança]. Essa mudança vem acontecendo dos anos 1990 para cá. Especialmente nos países latino-americanos, isso é ainda mais recente”, diz Avelleda.

O futuro plano, afirma ele, deve focar na proteção dos mais frágeis: pedestres (42% das vítimas fatais em 2017), motociclistas (39% das vítimas) e ciclistas (única categoria que teve aumento de mortes de 2016 para 2017).

Avelleda diz trabalhar para que a nova abordagem seja encampada por diferentes departamentos e secretarias de prefeitura. “Quando se aprova o licenciamento de um empreendimento, temos que avaliar o impacto viário não só pela fluidez, mas também pela segurança.”

O novo plano é desenvolvido com apoio de entidades internacionais como a WRI (World Resources Institute) e a Bloomberg Philantropies.

TESTES

A primeira etapa de testes da Visão Zero em São Paulo deverá ocorrer no centro de São Miguel Paulista, na zona leste. No início de março, a prefeitura lançou um edital que compreende 18 alterações viárias na região —entre os trilhos da CPTM, a região do mercado municipal no bairro e a praça do forró.

Uma das mudanças é a proibição de trânsito de carros particulares em um trecho de três quarteirões da avenida Marechal Tito, que será destinado apenas para ônibus.

Antes, nesse mesmo quadrilátero, a prefeitura já havia reduzido as velocidades máximas permitidas.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.