Criação de faixas de pedestres elevadas, avanço de calçadas sobre as pistas, diminuição da área usada pelos carros para fazerem curvas.
Medidas do tipo, que priorizam pedestres e incentivam a redução de velocidade dos veículos, serão testadas em algumas ruas e avenidas pela Prefeitura de São Paulo.
Sob críticas de especialistas em segurança viária, a administração João Doria (PSDB) ficou marcada em seu primeiro ano pelo aumento dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros —onde as mortes subiram ao menos 23% em 2017.
Agora, com Bruno Covas no comando a partir desta sexta (6), prepara ações dentro da estratégia mundial batizada de Visão Zero, que tem como princípios a ideia de que todo acidente grave e com mortes no trânsito pode ser evitado e que as pessoas invariavelmente cometerão erros, mas a cidade deve estar preparada para isso.
As primeiras vias que deverão sofrer alterações são a avenida Carlos Caldeira Filho, a estrada de Itapecerica (ambas na zona sul), a avenida Celso Garcia e a região central de São Miguel Paulista (ambas na zona leste).
VELOCIDADE
A Visão Zero começou a ser difundida no fim da década de 90, após a experiência da Suécia na redução de suas mortes no trânsito. O país percebeu que só educação, treino de novos motoristas, fiscalização policial e novas leis não eram suficientes.
Uma nova abordagem foi proposta visando aumentar a segurança dos equipamentos nos carros, adequar as velocidades das vias, criar áreas de baixa velocidade e até redesenhar trajetos nas ruas, faixas de pedestres e calçadas.
Os novos desenhos de vias forçam, por exemplo, que apenas um motorista por vez consiga fazer uma conversão de uma rua para a outra dentro de um bairro —obrigando a redução da velocidade para prestar mais atenção a eventuais pedestres.
Outra ideia é avançar a calçada na pista em determinados pontos para diminuir a distância percorrida por pedestres ao atravessar a rua.
Com esse método, a taxa sueca de mortes no trânsito caiu para 3 a cada 100 mil habitantes —contra 19,2 no Brasil e 7,07 na capital paulista.
Cidades como Nova York, Los Angeles, São Francisco e Londres e, mais recentemente, Bogotá e Cidade do México adotaram ações semelhantes e bem-sucedidas.
Sergio Avelleda, secretário municipal de Transportes, diz que agora elas serão implantadas em São Paulo.
Embora em muitas cidades a metodologia tenha sido acompanhada da redução das velocidades máximas em áreas urbanas, a prefeitura diz que não cogita isso para as pistas das marginais.
“Não vejo contradição nenhuma [entre adotar a Visão Zero e manter velocidades mais altas na Pinheiros e na Tietê]. Cada uma das vias na cidade tem a sua função. As marginais são vias expressas, estruturadas, distantes de imóveis lindeiros”, afirma. “Inclusive, nas faixas próximas a imóveis lindeiros, nós mantivemos os 50 km/h.”
O aumento dos limites nas marginais era uma promessa eleitoral de Doria —que, agora, deixa o cargo para concorrer ao governo paulista.
PLANO
A ideia da gestão tucana é que, em um ano, consiga elaborar um plano de segurança viária para toda a cidade.
Entre as propostas estão metas específicas de redução de acidentes graves de cada uma das 8 gerências regionais da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
A meta da gestão é reduzir a taxa de mortes no trânsito dos atuais 7,07 para 6 mortes a cada cem mil habitantes.
“A engenharia de tráfego, até o final do século 20, foi permeada pela fluidez [em detrimento da segurança]. Essa mudança vem acontecendo dos anos 1990 para cá. Especialmente nos países latino-americanos, isso é ainda mais recente”, diz Avelleda.
O futuro plano, afirma ele, deve focar na proteção dos mais frágeis: pedestres (42% das vítimas fatais em 2017), motociclistas (39% das vítimas) e ciclistas (única categoria que teve aumento de mortes de 2016 para 2017).
Avelleda diz trabalhar para que a nova abordagem seja encampada por diferentes departamentos e secretarias de prefeitura. “Quando se aprova o licenciamento de um empreendimento, temos que avaliar o impacto viário não só pela fluidez, mas também pela segurança.”
O novo plano é desenvolvido com apoio de entidades internacionais como a WRI (World Resources Institute) e a Bloomberg Philantropies.
TESTES
A primeira etapa de testes da Visão Zero em São Paulo deverá ocorrer no centro de São Miguel Paulista, na zona leste. No início de março, a prefeitura lançou um edital que compreende 18 alterações viárias na região —entre os trilhos da CPTM, a região do mercado municipal no bairro e a praça do forró.
Uma das mudanças é a proibição de trânsito de carros particulares em um trecho de três quarteirões da avenida Marechal Tito, que será destinado apenas para ônibus.
Antes, nesse mesmo quadrilátero, a prefeitura já havia reduzido as velocidades máximas permitidas.
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