Em 24 horas, Rio tem chacina em baile funk, PMs mortos e bloqueio de rodovia com corpos

Cinco morreram em Duque de Caxias; em Angra, corpos foram parar na BR-101

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

O estado do Rio de Janeiro registrou uma chacina, duas mortes de policiais militares e até bloqueio de rodovia com corpos nas últimas 24 horas. 

Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, cinco pessoas foram assassinadas em frente a um baile funk, na manhã deste sábado. 

O crime ocorreu por volta das 6h, quando homens encapuzados chegaram atirando em direção a um trailer onde acontecia o baile funk, na Vila Operária.

A polícia trabalha com a hipótese de mortes intencionais. As vítimas foram identificadas como Marlon de Souza, 19, Rosangela de Souza Ribeiro, 49, Douglas Carneiro, 35, Carla Gomes Maria, 37, e Felix Fonseca da Silva, 46.

Corpos bloqueiam rodovia BR-101, em Angra dos Reis
Corpos bloqueiam rodovia BR-101, em Angra dos Reis - Divulgação/PRF

MILITARES MORTOS

Durante o dia, dois PMs foram mortos no estado em ocorrências diferentes.

O sargento Carlos Eduardo Gomes Cardoso, 36, foi assassinado em operação na comunidade do Bateau Mouche, na zona oeste do Rio. A comunidade tem sofrido com uma disputa entre milícia e facção pelo controle do tráfico de drogas na região.

A ação policial foi iniciada na manhã deste sábado. Cardoso foi atingido no peito e no braço e chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a Polícia Militar, um homem foi preso durante a operação.

Em Iguabinha, na Região dos Lagos, o cabo Antônio Carlos Oliveira de Moura, 33, foi assassinado depois de ser sequestrado por criminosos. Com oito anos de corporação, ele estava lotado no Batalhão de Polícia Rodoviária.

A PM diz que Moura foi encontrado perto de seu carro em uma mata perto de uma comunidade no município. O veículo foi incendiado pelos assassinos. Com os dois, sobe para 38 o número de policiais mortos no estado em 2018, segundo a PM.

Em Angra dos Reis, no litoral sul do estado, moradores de uma comunidade bloquearam a BR-101 com dois corpos que seriam vítimas de confronto com a polícia. Segundo eles, os homens foram baleados por volta das 14h de sexta (27).

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o bloqueio foi iniciado por volta das 16h20 deste sábado, mais de 14 horas após as mortes. Os corpos foram recolhidos e o caso será investigado pela Polícia Civil.

Na delegacia da cidade, policiais que participaram da operação na comunidade disseram que foram recebidos a tiros ao entrar no local e revidaram. Eles contaram ter apreendido armas e drogas, mas não relataram que havia feridos. 

A Polícia Civil disse que a perícia esperava reforço da Polícia Militar para entrar na comunidade quando foi avisada de que moradores decidiram levar os corpos para a rodovia.

INTERVENÇÃO FEDERAL

O Rio está com sua segurança pública sob intervenção federal. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

De lá para cá, os casos de violência não diminuíram e o assassinato de repercussão internacional da vereadora Marielle Franco (PSOL) continua sem resposta.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública. Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores.

No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que foi publicado, 38 policiais militares foram mortos no estado do Rio de Janeiro em 2018. Versão anterior mencionava 40 mortos. O texto foi corrigido. 

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