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Como atropelamento em Copacabana revelou australiano condenado por pedofilia foragido há 20 anos no Brasil

Estrangeiro está em coma desde o acidente que feriu 17 pessoas em janeiro, no Rio

Carro preto amaçado na praia de Copacabana após invadir calçadão
A polícia investiga o que aconteceu dentro do carro que atropelou pelo menos 17 pessoas em Copacabana - Sebastian Rocandio - 19.jan.2018/ Reuters
São Paulo

Condenado por pedofilia e foragido da polícia, o australiano Christopher John Gott, 63, conseguiu escapar das autoridades da Austrália por 22 anos. Até ser atingido por uma Hyundai i30 preta nas praias de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Gott morava no Brasil com um passaporte falso há 20 anos quando foi descoberto literalmente por acidente: ele foi uma das 17 vítimas de um carro desgovernado que invadiu o calçadão na noite do dia 18 de janeiro e atingiu as pessoas que passavam por ali. Um bebê de 8 meses morreu e os feridos foram levados para dois hospitais cariocas.

O motorista, Antonio de Almeida Anaquim, 41, alegou ter sofrido um ataque epiléptico enquanto dirigia –a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso.

No Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, as autoridades notaram que uma das pessoas feridas no episódio era um australiano, cujo passaporte indicava o nome Daniel Marcos Philips. Gravemente ferido, o homem estava em coma –estado em que se encontra até hoje, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio.

A embaixada australiana foi informada do caso e um porta-voz do Departamento de Relações Exteriores e Comércio do Consulado da Austrália emitiu uma nota dizendo que os oficiais australianos estavam trabalhando com as autoridades brasileiras para determinar se um australiano tinha sido ferido no atropelamento.

O único problema é que Philips não existia: as autoridades australianas não encontraram qualquer registro de um cidadão daquele país com esse nome. A Polícia Federal da Austrália iniciou uma investigação para buscar a real identidade do homem e concluiu que o passaporte era falso.

Segundo o jornal australiano The Australian, foi a digital de Gott, enviada para a Polícia Federal da Austrália, que revelou que o cidadão australiano ferido no Brasil era na verdade um fugitivo procurado pela polícia há 22 anos por um crime sexual.

Contatada pela BBC Brasil e questionada sobre quais são as condenações de Gott, a Polícia Federal australiana confirmou que ajudou na identificação de "uma vítima de um acidente de carro no Brasil", mas disse que não poderia dar mais detalhes sobre o caso. Já a Polícia Federal do Brasil ainda não se pronunciou oficialmente em relação ao assunto.

PROCURADO

Nascido em Melbourne, Gott trabalhou como professor de ensino médio na cidade de Darwin até 1994, quando foi preso após 17 denúncias diferentes de abuso sexual de crianças, incluindo uma acusação de estupro de uma criança menor de 14 anos e o abuso de um adolescente de 16, segundo o periódico The Australian. Ele foi condenado a seis anos de prisão e fugiu dois anos depois, após ter a liberdade condicional concedida.

Gott é procurado por autoridades australianas desde então.

A polícia do Território do Norte, região da Austrália onde Gott vivia, confirmou à BBC Brasil que procurava Gott por violar sua liberdade condicional e afirmou que trabalha com autoridades internacionais para avaliar a possibilidade de extradição. "Devido a seu estado de saúde, vamos continuar a monitorar a situação com o objetivo de tomar uma atitude, se possível, no futuro", afirmou o órgão.

Um funcionário do Hospital Miguel Couto que pediu para não ser identificado disse que é improvável que o australiano saia do coma. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que o estado de saúde dele é grave.

No Brasil há 20 anos, ele morava em Copacabana e dava aulas de inglês como professor freelancer, segundo um conhecido que pediu para não sei identificado.

O jornal The Australian também afirma que Gott trabalhou em uma escola internacional brasileira.

A embaixada da Austrália no Brasil disse não poder disponibilizar informações sobre o caso.

O Itamaraty informou à BBC Brasil que cabe ao Ministério da Justiça comentar o assunto. Até o fechamento desta reportagem, a pasta não havia retornado o pedido de informações.

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