Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Fundações criam programa de incentivo a 'novas Marielles'

R$ 33 milhões foram doados a programa que trabalha por equidade racial

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Rio de Janeiro

Fundações se uniram para criar um programa que pretende incentivar mulheres negras a se tornarem lideranças políticas.

A inspiração para a iniciativa é a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março deste ano.

As fundações Ford, Open Society e Ibirapitanga vão doar US$ 3 milhões (equivalente a R$ 10 milhões) ao Fundo Baobá, que atua buscando equidade racial no Brasil. A Fundação Kellogg, que já trabalha com o Baobá, doará outros US$ 7 milhões, de modo que o montante destinado ao programa será de US$ 10 milhões (equivalente a R$ 33 milhões).

“Marielle representava a possibilidade de uma mulher negra, da favela, bissexual chegar em espaços de poder. Seu assassinato brutal foi uma tentativa de dizer que essa possibilidade não existe. É fundamental que anunciemos para o mundo que o Brasil produzirá novas Marielles. Que mulheres negras das periferias ocuparão espaços de poder e que esse caminho não tem volta”, justifica Pedro Abramovay, diretor da Open Society Foundations para a América Latina.

O programa foi anunciado no 10º Congresso Gife, nesta quarta-feira (4). 

BONDE DE INTELECTUAIS DA FAVELA

Nascida e criada no Complexo da Maré, zona norte do Rio, Marielle começou a trabalhar aos 11 anos, para pagar sua escola, foi educadora numa creche na Maré e aluna da primeira turma de pré-vestibular comunitário do complexo, aos 19 anos, em 1998.

Iniciou sua militância em direitos humanos em 2000, após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida em tiroteio entre policiais e traficantes na Maré.

Tornou-se parte do que chamava de “bonde de intelectuais da favela”, uma geração que fez pré-vestibular comunitário e conseguiu acesso a boas faculdades —​a dela, ciências sociais, na PUC Rio, onde entrou com bolsa integral em 2002.

Com os estudos e dois empregos para sustentar a filha, não participou do movimento estudantil na faculdade, mas nunca se desligou da militância pró-comunidades. Em 2006, integrou na Maré a equipe de campanha que ajudou a eleger Marcelo Freixo (PSOL) à Assembleia Legislativa do Rio. 

O deputado se tornaria seu padrinho político, nomeando-a assessora parlamentar e, posteriormente, coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj. Em linha com a atuação política do PSOL, Marielle entrou, em 2012, no mestrado em administração pública na UFF (Universidade Federal Fluminense).

Sua candidatura a vereadora, na eleição de 2016, demandou convencimento por parte de seus colegas do PSOL —​ela resistia à ideia de concorrer. Fez uma campanha calcada na tríade gênero, raça e cidade, com o lema “eu sou porque nós somos” —referindo-se a mulheres, negras, de favela, como ela.

Esperava ter cerca de 6.500 votos, mas acabou escolhida por 46.502 eleitores, a quinta maior votação para o cargo. As zonas eleitorais em que teve melhor desempenho ficam no Catete, Jardim Botânico (ambos na zona sul) e na Tijuca (zona norte).

Em seus pouco mais de 13 meses de mandato, apresentou 13 projetos —entre eles, um contra o assédio às mulheres em transportes públicos, um pelo atendimento humanizado nos casos de aborto legal e um para a criação de um horário noturno em creches municipais, tendo em mente pais pobres que estudam ou trabalham à noite, sem ter com quem deixar os filhos. Era também relatora da comissão da Câmara Municipal que fiscalizará a intervenção militar no Rio.

Marielle era ainda presidente da Comissão de Defesa da Mulher e defensora dos direitos LGBTQ —há alguns anos, começou um relacionamento com Mônica, a quem classificava como “minha companheira de vida e de amor, a primeira mulher que beijei”.

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