Justiça manda soltar 137 de 159 presos em suposta festa de milícia no Rio

Ministério Público diz não haver prova efetiva que permita denúncia do grupo

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Camila da Silva, 27, cujo marido foi libertado nesta quarta (25), após ser detido em festa de milícia
Camila da Silva, 27, cujo marido foi libertado nesta quarta (25), após ser detido em festa de milícia - Ricardo Borges/Folhapress
Luiza Franco Bernardo Tabak
Rio de Janeiro

A Justiça do Rio mandou soltar 137 dos 159 presos numa festa supostamente organizada por milicianos, na zona oeste do Rio, no início de abril.

A decisão, divulgada nesta quarta (25), atende a uma solicitação do Ministério Público, que pediu à Justiça que revogasse a prisão de 138 suspeitos. Um deles, o artista circense Pablo Martins, 23, já havia sido solto no último sábado (22).

Parentes dos detidos aguardavam desde o início da tarde a decisão, entre eles, Camila da Silva, 27, mulher de Fabio da Silva, 35, motorista que presta serviço à companhia de lixo do Rio. Desde que o marido foi preso, ela repetia ao filho pequeno que o pai estava em uma viagem.

“Agora é só festejar e agradecer a Deus”, disse ela.

A operação que resultou nas prisões foi celebrada como o mais duro golpe contra o crime dado pela intervenção federal na segurança pública estadual.

Com a escalada de crimes, o Rio está sob intervenção desde 16 de fevereiro, em decisão do presidente Michel Temer (MDB), que escolheu o general do Exército Walter Braga Netto como o interventor.

De acordo com a Promotoria, não há, até o momento, provas efetivas que permitam o oferecimento de denúncia contra esses presos. O órgão disse que serão denunciados os outros 21 suspeitos que foram detidos na festa, e que existe a necessidade de manutenção da prisão deles.

Os 159 homens foram detidos em flagrante numa festa na zona oeste do Rio que a Polícia Civil disse ser uma reunião de milicianos. Mas, segundo a Defensoria Pública, parentes dos presos e testemunhas dizem ter sido apenas uma festa de pagode.

O pedido de liberdade feito pelo Ministério Público não indicou ilegalidade na ação policial nem na decisão da Justiça pela prisão dos 159 participantes da festa.

Para a Promotoria, de fato, havia no local integrantes do primeiro escalão da milícia da região, o que se comprova pela troca de tiros iniciada contra a Polícia Civil. Houve ainda disparos feitos por homens que estavam na portaria da festa e de um carro com três ocupantes estacionado na porta —parte dos tiros partiu também de dentro do evento, o que, segundo os promotores, atesta que havia criminosos no local.

A Polícia Civil do Rio afirma que todas as prisões foram feitas em flagrante durante uma festa em homenagem a milicianos, com ostentação de armas e seguranças com fuzis controlando todo acesso às dependências do local. 

A polícia diz ainda que, nas audiências e decisões da Justiça, não foi mencionada nenhuma ilegalidade na ação.

Segundo a Polícia Civil, a festa seria da Liga da Justiça, a maior milícia do Rio, que atua principalmente na zona oeste, mas também na Baixada Fluminense e na Costa Verde.

O chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, afirmou nesta quarta-feira (25) que o grupo fatura aproximadamente R$ 300 milhões por ano.

“Eles têm um poder bélico e econômico enorme. Faturam R$ 25 milhões por mês, cerca de R$ 300 milhões por ano, praticando várias modalidades criminosas, desde roubos, extorsão e lavagem de dinheiro, chegando a vender drogas e até explorando meninos que fazem malabarismo em sinais de trânsito.”

O chefe da polícia disse que o maior percentual do dinheiro vem das vans ilegais e da extração de barro e venda de lotes sem permissão ou documentação. Segundo ele, boa parte da soma tem como objetivo a corrupção de agentes públicos —policiais civis e PMs, além de bombeiros, são acusados de integrar milícias.

Numa operação realizada na manhã desta quarta, 18 pessoas foram presas em Campo Grande, também na zona oeste. Cerca de 30 vans foram apreendidas, um depósito irregular de gás foi interditado e uma central de monitoração de ruas foi fechada, com cerca de 20 câmeras apreendidas. 

O chefe da Polícia Civil afirmou ainda que uma facção criminosa está “totalmente alinhada” à milícia que atua em Santa Cruz e Campo Grande. Segundo ele, o chefe da milícia, conhecido como Ecko, “vai ser preso mais cedo ou mais tarde”.

O policial afirmou ainda que a entrada de recursos por causa da intervenção federal no estado está ajudando no que chamou de “planejamento estratégico de combate às milícias”. “É apenas uma operação. Outras virão ao longo do ano. Não daremos trégua ao crime organizado”, afirmou Barbosa.


 

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