Descrição de chapéu Obituário Orestes Lopes Corsalette (1946 - 2018)

Mortes: Educador físico tratava esporte como ferramenta civilizatória

Não via graça na competitividade selvagem e desprezava fominhas

Fabrício Corsaletti
São Paulo

Alto, bonito, simpático e agregador, Orestes Lopes Corsalette, ou simplesmente Orestão, ou ainda Melão, foi um professor de educação física que valorizava o trabalho em equipe e um boêmio que estimulava as realizações culturais.

Nasceu em Santo Anastácio, no oeste paulista, em 21 de setembro de 1946, filho de João Lopes Sanchez, barbeiro e comerciante, e Adelaide Corsalette Lopes, dona de casa. Era o terceiro de quatro irmãos: Dolores (Lindinha), Manuel (Lito), Orestes e Ana Maria.

Orestes Corsalette (1946-2018)
Orestes Corsalette (1946-2018) - Portal Bueno

Apaixonado por esportes, formou-se em educação física pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1975, depois de dois anos de namoro, casou-se com Vânia Aparecida Dasan Benito Lopes Corsalette, também anastaciana. O casal foi morar em Santo Amaro. Nos finais de semana iam para a praia ou para Monte Verde, no sul de Minas Gerais. Orestes dava aulas em escolas de São Paulo e do ABC.

Em 1974 e 1975 organizou em Santo Anastácio as Olimpíadas Brancos e Pretos, misto de olímpiada tradicional com gincana. As modalidades eram futebol, vôlei, basquete, tênis, natação, mas também arremesso de bituca, bocha, corrida de saco, corrida de barco, corrida de cavalo, queda de braço etc. Na última noite dos jogos havia shows de bandas (ou conjuntos, como se dizia) da região, entre elas o Turbasom, de seus sobrinhos Paulinho Corsaletti e Gilson Corsaletti, que aprenderam com ele a tocar violão e bateria, respectivamente. Embora não fosse músico, tinha uma noção básica de todos os instrumentos necessários para uma roda de samba.

Mais tarde, em Venceslau, Orestes criou as Olimpíadas Brancos e Azuis, seguindo lógica parecida.

Quando esperavam o nascimento do primeiro filho, Conrado, nascido em 1978, Orestes e Vânia decidiram se mudar para o interior. (Para isso, Orestes teve que recusar uma proposta de ser preparador físico de um time de futebol no Japão.) Agora em Presidente Venceslau, a vinte minutos de sua cidade natal, o professor trabalhava em escolas públicas da região, no clube Coroados e em sua escolinha particular, a Canguru, que, muito antes de essa prática se tornar comum, concedia bolsas integrais para meninos carentes talentosos. Para seu próprio prazer, jogava tênis duas ou três vezes por semana.

Sua postura como professor fez história. Não achava graça na competitividade selvagem entre os atletas. Tinha desprezo por boleiros fominhas. Preferia perder com honra a ganhar no grito. Para ele, a prática esportiva era uma espécie de ferramenta civilizatória, uma maneira, entre outras, de desenvolver nossa capacidade de convivência pacífica e, principalmente, solidária. Respeitava os alunos como indivíduos e não admitia nenhuma forma do que hoje se conhece como bullying. Aqueles que frequentaram suas aulas até hoje falam dele com encanto, gratidão e reverência.

Em 1980 veio o segundo filho, Caio, e em 1982, o terceiro, Camilo. Todo fim de ano a família ia de Fusca até Paúba, no litoral paulista, passar as férias com os amigos paulistanos. Eram temporadas regadas a muitas risadas, muita cerveja e muito banho de mar. Orestes gostava de ler gibis de caubói, de contar piadas, de tirar um cochilo depois do almoço e de ouvir Chico Buarque, Milton Nascimento e Novos Baianos.

Social-democrata, meio hippie, sem dúvida com um pé na contracultura dos anos 70, era um agitador cultural nato e querido por todos. Estava sempre rodeado de amigos e admiradores. Mas não suportava gente chata. Seu xingamento favorito era “boçal”.

Foi um marido carinhoso e um pai liberal e paciente. Em 1994 sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) que o condenou a 24 anos de cadeira de rodas. Tinha dificuldade para falar, o que não impedia que a mulher e os filhos o compreendessem quase que perfeitamente. Nos últimos anos, sua maior alegria era assistir a partidas do Corinthians pela TV e acompanhar o crescimento dos netos Cauê, Miguel, Antonia, Dora e Manuela.

Morreu em 24 de abril de 2018, aos 71 anos, em São Paulo. À sua maneira, batalhou por uma sociedade mais justa e menos mesquinha. Adorava a vida. Além da saudade, deixa uma grande vontade de viver.

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