Leonildo costumava voltar dos churrascos na região de Lençóis Paulista (a 287 km de São Paulo) com fome. "Nem comi nada", dizia para a mulher, Diná, ao chegar em casa. "Até sei", respondia a companheira. "Ficou cantando, né?"
Era verdade. Leonildo gostava de tocar sertanejo raiz em seu violão e cantar desde muito jovem. Criado na roça, o mais velho de cinco filhos se destacava na lavoura pela agilidade com que cortava a cana.
A destreza nos movimentos era notada também ao tocar violão, prática a que pôde se dedicar exclusivamente desde que sofreu um aneurisma cerebral, aos 35, e se aposentou por invalidez.
Na região de Lençóis, ficou conhecido por fazer parte da dupla Marabá e Madrigal —era o Madrigal, termo que designa composições poéticas galantes— e por se apresentar com a Orquestra Boca do Sertão.
Tinha três violões. Passava horas dedicando-se ao instrumento e divertia-se assistindo aos programas televisivos apresentados por Rolando Boldrin, embaixador da cultura caipira.
Enfrentou e superou dois cânceres já após os 70 anos, sem se deixar abater, mantendo o jeito alegre e receptivo. Não ofendia ninguém, aceitava as brincadeiras sempre com uma risadinha característica.
Em janeiro, a descoberta de um linfoma agressivo o derrubou. Não ria mais, deixou de assistir a Boldrin.
No último dia 6, como escreveu o jornalista Benedicto Blanco, Madrigal deixou em silêncio o seu amigo violão.
Deixa a companheira de toda a vida, Diná Maria, as filhas Cristiane e Alessandra, e três netos.
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