Demônica, Infernanda, Babette, Beleninha, Margaridinha e Franga. A língua ferina de Maria Telles, a Maricota, era inclemente com as melhores amigas, todas apelidadas por ela.
A própria confraria de senhoras egressas da faculdade de ciências humanas da USP tinha um nome dado por Maricota —eram as "Dirces".
O grupo, que de certa forma já existia informalmente, tornou-se uma espécie de instituição para elas há cerca de dez anos, quando, ao ver uma com câncer e outra enfrentando uma separação, Maria convocou reuniões para prestarem apoio umas às outras.
Apesar de ser um grupo de intelectuais, as Dirces se reuniam para atividades lúdicas. O nome era uma brincadeira de conceito semelhante ao de "Amélia", como diz uma das amigas, "mulheres não pensantes".
Os encontros ocorriam na edícula da casa na Vila Ida, local apelidado de Rancho. Bordavam, fuxicavam, comiam os quitutes de Maricota, ouviam música —ela tinha um conhecimento vasto de jazz e bossa nova.
Organizada e de gênio forte, gostava de seguir o que planejava. Quando conheceu o cineasta Sérgio Teichner, comentava com as amigas que iria se casar com ele. "Ele ainda não sabe que eu sou a mulher da vida dele." Ficaram cerca de 20 anos juntos.
Quis ter um filho homem. Teve, Octávio. Quando engravidou, quis que o bebê nascesse no dia de seu aniversário, 7 de setembro. Nasceu.
Odiava desperdícios e gastos extravagantes. Brigava por causa disso. Com um câncer reincidente, reclamou ao receber um presente de uma amiga. "Você sabe que não vou durar muito", afirmou.
Morreu no dia 18, aos 60, em decorrência de um câncer. Deixa o filho Octávio, que herdou da mãe as tiradas inteligentes, três irmãos e a confraria das Dirces.
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