Descrição de chapéu Obituário Oscarino Farias Varjão (1937 - 2018)

Mortes: Oscarino e Peteleco, patrimônios culturais do Amazonas

Dupla de ventríloquo e boneco encantou gerações no Norte por 60 anos

Paulo Gomes
São Paulo

​​ Oscarino sentava com o boneco de madeira no colo e dizia algo, o tom sério. As pessoas prestavam atenção —parecia que viria uma mensagem a se refletir. Com olhos vívidos, o boneco Peteleco respondia: “Tu é leso, é?”, dando a deixa para irromperem gargalhadas.

O contraste entre criador e criatura levou o apresentador Jô Soares a comentar com Oscarino sobre o comportamento do boneco: “ele é malcriado, né?”

Primogênito entre oito filhos de um casal no centro de Manaus, Oscarino desenvolveu sozinho sua técnica. O pai não aprovava a ocupação.

Aos 20 criou Peteleco, que começou a cair nas graças do povo com seu jeito travesso e respondão. O nome —petelecos na orelha eram uma traquinagem popular em Manaus— foi dado justamente pelo pai de Oscarino, que deixou de implicar com o talento do filho.

Nos últimos 60 anos, o boneco e seu inseparável ventríloquo fizeram parte do cotidiano amazonense. Viajando pelo estado e região com Peteleco, Oscarino se apresentou em escolas, praças, teatros, festivais, festas, casamentos e comícios políticos.

Muito católico, pedia a Deus para sempre ter saúde e poder trabalhar com o boneco para sustentar a família. Em entrevista para o recente documentário “Oscarino & Peteleco”, já com a saúde debilitada e confrontado com a finitude da vida, chorou abraçado ao boneco, em gesto de despedida.

“Poxa, Peteleco... a vida é assim mesmo”, disse, com pesar (vídeo abaixo).

Morreu no último domingo (15), aos 80, após uma parada cardiorrespiratória em decorrência de um câncer no estômago. Deixa a mulher Orlandina, 12 filhos de dois casamentos, 89 netos e bisnetos.
 
E o parceiro Peteleco, elevado em 2016 a patrimônio cultural e imaterial do estado do Amazonas. Mas que, sem Oscarino, não é.


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