Descrição de chapéu USP educação

Muro de vidro da USP tem quebradeira misteriosa e manutenção ainda incerta

Especulações sobre causas vão de tiros e pedradas às trepidações de caminhões

Placas de vidro da raia olímpica da USP de novo amanheceram quebradas ao lado da marginal Pinheiros
Placas de vidro da raia olímpica da USP de novo amanheceram quebradas ao lado da marginal Pinheiros - Zanone Fraissat/Folhapress
Mariana Zylberkan
São Paulo

Três placas de vidro estilhaçadas e um mistério. Nesta terça-feira (24), pela terceira vez em uma semana, frequentadores da raia olímpica da USP amanheceram com dúvidas sobre o que poderia ter quebrado novamente partes aleatórias do muro transparente ainda em construção rente à marginal Pinheiros.

A maioria aposta em vandalismo, mas as especulações se multiplicam: vão de pedras e tiros a trepidações provocadas pelos caminhões que trafegam apenas de madrugada na via ao lado. Há até quem aposte em impacto provocado por pássaros desorientados. Adesivos que lembram urubus foram colados nos vidros como uma forma de orientação para reduzir a mortalidade das aves no entorno.

Até as capivaras em torno da raia são suspeitas. “Está virando rotina e não sabemos o que pode estar causando os danos”, diz José Neto, supervisor da raia.

O muro de vidro foi anunciado pela gestão do então prefeito João Doria (PSDB) em julho do ano passado como uma maneira de revitalizar a região da marginal e “integrar a Cidade Universitária à cidade”. 

Desde o início das obras, doadas por 45 empresas à USP ao custo de R$ 15 milhões, foram registrados danos em oito placas. A primeira ocorrência foi na última quarta (18), logo após a inauguração do primeiro trecho. Em menos de uma semana, seis placas quebradas tinham sido substituídas. Duas partes que já estavam estilhaçadas se somaram à terceira descoberta na madrugada desta terça-feira.

Segundo o registro policial, um segurança particular da universidade foi informado sobre a nova ocorrência por volta da 1h. Outro funcionário fazia a ronda na raia olímpica e constatou o vidro rompido. Foi requisitada perícia no local, que só deve ficar pronta em um prazo de até 30 dias.

Para evitar supostos novos atos de vandalismo, foi escalado um segurança particular da universidade para ficar de olho no vidro e uma viatura da guarda civil deverá intensificar as rondas no local. O projeto prevê a instalação de câmeras de segurança, o que ainda não foi feito. 

Dos 2,2 km do muro de alvenaria construído há 21 anos, cerca de 500 metros já foram substituídos por vidros. Cada placa é avaliada em R$ 4.000. Ao fim do projeto, terão sido colocados 1.222 vidros.

Ainda não está claro quem irá arcar com as contas de manutenção após o fim das obras, previsto ainda para este mês. Segundo a USP, essa parte do contrato ainda está em negociação —por enquanto, as trocas dos vidros são feitas pelas empresas doadoras.

Com as contas no vermelho, a universidade, portanto, corre o risco de ter que sustentar a manutenção do “presente” dado pela prefeitura.

Em abril do ano passado, a reitoria abriu chamamento público para revitalizar a raia olímpica. O pedido de doações de empresas foi formalizado sob o argumento de que a crise financeira impedia novos investimentos no campus. 

Inaugurada em 1973, a raia olímpica teve poucas melhorias desde a realização da 1 Regata Internacional, naquele ano. O chamamento público feito pela reitoria no ano passado previa várias reformas além do muro: dos galpões onde ficam os barcos, da barragem que forma a raia e a instalação de uma pista de corrida na margem.

Sem interessados, a USP prorrogou por três vezes o chamamento público. Apenas a substituição do muro, portanto, foi contemplada devido ao intermédio da prefeitura.

O projeto original previa a substituição do muro por gradis, mas foi alterado após estudo que previu maior poluição sonora e sugeriu substituição de material.

Empresas fornecedoras de estruturas de vidro, esquadrias e acabamentos em geral formaram um pool de doadoras para viabilizar as obras.

A USP afirma que, por enquanto, aguarda o interesse de alguma empresa que se disponha a arcar com os valores da manutenção, após o término da instalação dos vidros.

O edital de chamamento público ficará aberto até aparecer o interessado, segundo a universidade. Entre as doadoras, está a arquiteta Joia Bergamo, que doou o projeto do muro de vidro. Em vídeo divulgado pela prefeitura, as placas de vidro aparecem sustentadas por hastes de alumínio, que desapareceram na concepção atual.

Procurada, a arquiteta afirmou que os questionamentos sobre o projeto deveriam ser respondidos pela prefeitura.

A gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) negou que tenha tido qualquer alteração no desenho original e que as imagens exibidas no vídeo são meramente ilustrativas.

De acordo com o pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), André Azevedo, são vários fatores que fazem romper um vidro temperado com 12 milímetros de espessura: impacto provocado por algum objeto, movimentação de estrutura onde o material está instalado, movimentação por oscilação térmica e falha de material.

“Mesmo apostando em vandalismo, o impacto de uma pedra, por exemplo, tem que ser em uma quina. O vidro temperado é feito para trincar inteiro antes de se despedaçar para evitar formar pontas afiadas que aumenta risco de acidentes graves”, diz Azevedo.

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