Parte de grupo preso em suposta festa de milícia deixa presídio no Rio

30 dos 137 foram liberados nesta quinta; Promotoria diz não haver prova contra eles

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Pessoas que foram detidas em festa supostamente organizada pela milícia no Rio começam a ser liberadas
Pessoas que foram detidas em festa supostamente organizada pela milícia no Rio começam a ser liberadas - Ricardo Borges/Folhapress
Luiza Franco
Rio de Janeiro

Às 8h desta quinta-feira (26), um dos botecos em frente ao presídio de Bangu, na zona oeste do Rio, já estava cheio.

Tias, irmã, primas, mãe, sobrinhos e a melhor amiga de Emilio Silva aguardavam sua saída de Bangu 9, cadeia onde costumam ficar milicianos.

Emilio, que, segundo a família, foi premiado como funcionário do mês no restaurante onde trabalha como chapeiro, foi preso há 19 dias, junto com outros 158 homens, numa festa na zona oeste que a Polícia Civil descreveu como uma reunião de milicianos, mas que testemunhas e órgãos públicos dizem ter sido uma festa de pagode.

Após o Ministério Público constatar que faltavam provas para manter 138 deles presos, parte deles foi solta na tarde desta quinta. O artista circense Pablo Martins, 23, já havia deixado a cadeia no último sábado (21). Todos continuam sendo investigados, mas, por ora, a Promotoria só denunciará 21 dos 159.

Na manhã desta quinta, não havia qualquer informação sobre quando os outros seriam soltos. Advogado de um dos presos, Jorge Oliveira dizia na porta da cadeia que, em tese, a lei diz que revogação de prisão preventiva deve ser efetuada em 24 horas, mas na prática o processo costuma durar mais.

"Estamos dispostas a ficar aqui até a hora que for, só saio daqui com meu filho nos braços", disse a mãe de Emilio, Célia Silva, 50.

No início da tarde, começou a circular entre as famílias o rumor de que alguns alvarás de soltura haviam chegado ao presídio, o que gerou expectativa. Mais tarde, a Defensoria Pública confirmou que eles sairiam aos poucos, e a ordem seria alfabética. 

Até as 18h, 30 haviam sido libertados.

A cada preso solto, todas as famílias aplaudiam e, às vezes, gritavam "justiça!"

Alguns deles saíam sem mostrar o rosto, segundo parentes, porque vivem em áreas controladas por traficantes, que talvez não aprovem a presença de moradores em festas supostamente organizadas por milicianos, seus rivais.

A Folha conversou com os três primeiros soltos nesta tarde.

Entre eles estava Alexandre Mourão. "A gente saiu para se divertir, pagou ingresso e aconteceu essa injustiça. A polícia foi agressiva com a gente o tempo todo, dando socos e pontapés", disse ele ao deixar a cadeia. 

O advogado Jorge Oliveira disse que as prisões só aconteceram porque o lugar onde acontecia a festa era longe do centro da cidade. 

"Se fosse no meu prédio, no Leblon [bairro rico da zona sul], eles não fariam isso. É virar a Constituição de cabeça para baixo. Quase nenhum deles deveria estar preso", disse o advogado.

Alex Silva, técnico de segurança do trabalho e um dos primeiros detidos a ser solto, disse que até esta manhã não sabia que seria liberado. "Já tinha ouvido rumores outras vezes e não aconteceu, então preferi nem acreditar para não criar expectativa. Só acreditei quando o oficial de Justiça apareceu."

O CASO

O pedido de soltura feito pelo Ministério Público do Rio de Janeiro não indicou ilegalidade na ação policial nem na decisão da Justiça que determinou a prisão dos 159 participantes da festa.

De acordo com a Polícia Civil, a comemoração foi organizada por um grupo chamado Liga da Justiça. A organização é formada por policiais, ex-policiais e bombeiros e atua no Rio e em municípios da Baixada Fluminense e da Costa Verde. Pelo menos quatro pessoas foram mortas durante a operação.

A Polícia Civil do Rio afirma que todas as prisões foram feitas em flagrante e que, nas audiências e decisões da Justiça, não foi mencionada nenhuma ilegalidade na ação. 

Com a escalada de crimes, o Rio está sob intervenção desde 16 de fevereiro, em decisão do presidente Michel Temer (MDB), que escolheu o general do Exército Walter Braga Netto como o interventor. ​

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