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Um dia cracolândia, praça Princesa Isabel renasce com esporte e crianças

Com ajuda privada, área ganhou quadra, parquinho, banheiros e base para a PM

Crianças brincam em parquinho da praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, alvo de trabalho de revitalização
Crianças brincam em parquinho da praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, alvo de trabalho de revitalização - Zanone Fraissat - 23.abr.18/ Folhapress
Mariana Zylberkan
São Paulo

Flagrar pisadas nos blocos de grama recém-plantados é um dos poucos motivos que fazem os policiais militares chamarem atenção dos atuais frequentadores da praça Princesa Isabel, na região central de São Paulo.

Reformada por uma empresa privada, a área de 16,6 mil m² entre as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias passou a receber novamente moradores de seu entorno, após ter sido ocupada por usuários de drogas da cracolândia por um mês no ano passado.

Em maio de 2017, uma procissão de dependentes químicos deixou o entorno da estação de trem Júlio Prestes, atravessou a avenida Rio Branco e se instalou na praça —que, naquele momento, tornou-se a nova sede da cracolândia.

Era uma reação à ação policial que desobstruiu vias e prendeu traficantes, mas que sofreu críticas por não acabar com a venda de drogas a céu aberto e pela falta de atendimento social aos usuários.

A ocupação da praça também funcionou como uma espécie de protesto contra a proibição imposta pelos PMs de montar barracas na cracolândia —é sob lonas e pedaços de papelão que as drogas são vendidas e consumidas.

Apenas um dia após a ida de usuários de crack para a praça, a Guarda Civil Metropolitana contabilizou cerca de 600 pessoas estabelecidas por lá.

Essa ocupação durou pouco, deixou de existir há quase um ano, mas a recuperação de fato da Princesa Isabel é recente, há cerca de 20 dias —quando a seguradora Porto Seguro, que possui cerca de dez imóveis na vizinhança, entregou a reforma.

Além de canteiros descuidados de terra batida terem sido substituídos por um novo gramado, a praça ganhou um espaço cercado para cachorros, parquinho, mesas, banheiros, aparelhos de ginástica e uma quadra —de longe o espaço mais disputado.

Funcionários de churrascarias no entorno aproveitam a novidade para organizar campeonatos de futebol de salão.

Na tarde de segunda (23) era a vez de garotos que moram na favela do Moinho, perto dali, usarem a área em atividade organizada por um projeto social. Antes, eles jogavam futebol no largo Coração de Jesus, ao lado da cracolândia.

Em dias de quadra disputada, como nos finais de semana, o policial que estiver na base é responsável por organizar o rodízio de times em um papel preso a uma prancheta.

Os oficiais exigem a presença de pelo menos um maior de 18 anos que apresente o RG. Cada grupo pode utilizar a quadra por até uma hora.

No último fim de semana, além da quadra, o gramado próximo ao parquinho também foi disputado. Um grupo de bolivianos, moradores do Bom Retiro, foi à praça fazer um churrasco improvisado.

Até uma TV foi levada por eles e ligada no posto da PM. “Está virando um novo parque Ibirapuera”, diz o sargento Marcos Lopes, oficial da base

 

Outro policial que faz ronda na praça diz que, antes da reforma, retirava pessoas que usavam os brinquedos para consumir drogas e fazer sexo.

O maior fluxo de frequentadores tem atraído também ambulantes, que vendem picolé e pipoca —e antes passavam longe por medo de roubo.

Os carrinhos são mais frequentes a partir do fim da tarde, quando os aparelhos de ginástica são disputados pelos frequentadores. A pista que corta a praça foi recapeada com asfalto e também tem sido usada por corredores.

Da estadia de usuários de drogas, porém, ainda há resquícios. Em um tronco de árvore, estão pichadas as letras PCC, em referência à principal facção criminosa paulista.

É frequente também a presença de moradores de rua, que dormem sobre a grama nova. Abordados por policiais, alguns saem de lá e se dirigem para a cracolândia. Outros se sentam nas cadeiras novas de alvenaria para dormir.

De manhã, frequentadores relatam a presença diária de idosos que vivem em abrigos próximos e estão acostumados a se reunir na praça para tomar cachaça —o que é proibido nos albergues. 

Apesar da repaginada, a proximidade com a cracolândia, a dois quarteirões de distância, não passa despercebida.

Dentro da base da PM construída na praça durante a reforma, os oficiais deixam encostados na parede dois escudos usados pelo Batalhão de Choque em caso de confronto.

Os frequentadores também sabem se o passeio poderá ou não ser feito só de olhar para a calçada oposta da avenida Rio Branco —para onde os usuários costumam correr durante ações policiais na cracolândia.

Bastou ver uma correria de longe para a dona de casa Vitória da Silva Santos, 20, desistir de levar o filho Joaquim, 2, para brincar na praça na última sexta (20). O passeio que é feito todos os dias pela família desde a reinauguração da praça foi interrompido por causa de confronto na cracolândia.

“Na hora, eu gelei. Voltei correndo para casa. Só via um monte de outras mães na praça correndo desesperadas com as crianças”, lembra.

Moradora de um prédio próximo, Vitória comemora a possibilidade de ter o espaço público como alternativa de lazer, mas, para se sentir mais segura, evita ir sem a companhia do marido, exceção naquela tarde de segunda-feira. “Vim porque ele não parava quieto dentro de casa.”

Naquela manhã, guardas civis e usuários de droga entraram em confronto a um quarteirão da praça Princesa Isabel. Houve depredação após dependentes terem reagido às ordens dos agentes para desmontar as barracas.

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