Afundada em dívidas, Santa Casa cria 'adoção' de kits cirúrgicos em SP

Piloto começa com 60 operações ginecológicas pagas por taiwaneses

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Entrada do prédio principal da Santa Casa de São Paulo
Entrada do prédio principal da Santa Casa de São Paulo - Adriano Vizoni - 03.set.17/ Folhapress
São Paulo

​​Sem dinheiro para pagar por insumos de cirurgias, como agulhas, fios de sutura, órteses e luvas, a Santa Casa de São Paulo resolveu lançar um projeto em que pessoas físicas e jurídicas vão poder doar kits cirúrgicos para atender pacientes que estão em filas no aguardo de procedimentos sem urgência e de diferentes complexidades.

Em uma iniciativa piloto, cerca de 20 taiwaneses bancaram kits para 60 cirurgias ginecológicas, investindo R$ 65 mil. As cirurgias começam nesta semana, e o grupo acompanhou da compra até a entrega dos insumos.

Atualmente, a Santa Casa administra uma dívida de cerca de R$ 700 milhões e paga um empréstimo de R$ 360 milhões com a Caixa Econômica Federal, tendo déficit mensal de R$ 14 milhões. É a pior crise financeira já enfrentada pelo complexo hospitalar, que é filantrópico e privado.

A instituição já desligou quase 30% de seus funcionários, deixou de administrar unidades de atendimento, vendeu imóveis, cortou custos, modernizou processos, mas, ainda assim, continua em situação delicada em suas finanças.

Embora quase a totalidade de seus atendimentos seja em decorrência de convênios com o SUS e com o governo de São Paulo, a Santa Casa entende que oferecer os “kits cirurgias” não transgride nenhum princípio legal e levanta sua missão filantrópica para defender o projeto.

“Temos a estrutura, temos os profissionais, mas enfrentamos dificuldades de estar em dia com os pagamentos a fornecedores, que atuam no limite para nos atender, mas que também têm seus compromissos com fabricantes. A saída que encontramos para enfrentar isso foi o projeto de parcerias para as cirurgias”, diz Paulo Motta, da direção da Santa Casa.

Quem adotar o kit não poderá escolher o paciente que será operado nem terá ingerência nenhuma no procedimento, como escolher a data.

As cirurgias vão respeitar as filas e a urgência dos casos. No departamento de ginecologia, a espera vai de três meses, para procedimentos mais simples, a cinco anos, para casos de maior complexidade.

“É uma frustração enorme para um médico, sobretudo para os mais jovens, não poder realizar uma cirurgia por falta de insumos. É uma mistura de angústia com sofrimento e nem sempre o paciente 
entende que o profissional não tem culpa da situação”, afirma Paulo Ayroza Ribeiro, chefe do departamento de ginecologia e Obstetrícia.

Em média, um kit de operação ginecológica custa R$ 1.000, mas há cirurgias de outras áreas que demandam por mais materiais, que poderão chegar a R$ 30 mil o kit.

Em princípio, a meta é fazer com que grandes empresas ou instituições aceitem “adotar” grandes lotes de cirurgias, que vão avançar para áreas como cardiologia, neurológica e ortopedia neste ano.

“É complexo fazer um kit cirúrgico porque são fornecedores diferentes para cada insumo e porque, por exemplo, para alguns materiais, como anestésicos, os lotes são grandes e não individualizados. Por isso, por enquanto, vamos oferecer a adoção de pacotes maiores de procedimentos e vamos aperfeiçoando isso com o tempo”, declara Eliana Garcia Fernandes Figueiredo, diretora de assistência farmacêutica do hospital.

A Santa Casa afirma que todo o processo de “adoção” será totalmente transparente, podendo o doador ter acesso a 100% de rastreabilidade dos insumos que patrocinou.

Para conseguir fôlego, a administração da instituição tenta negociar uma carência para o pagamento do empréstimo de R$ 360 milhões contraído com a Caixa Econômica Federal, em 2016.


O que é a Santa Casa
O maior complexo hospitalar privado e filantrópico da América Latina; administra quatro hospitais e uma unidade de saúde do governo estadual de SP

Unidades administradas
- Hospital Central
- Hospital São Luís Gonzaga
- Hospital Geriátrico D. Pedro 2º
- Hospital Santa Isabel
- Centro Escola Saúde Barra Funda (estadual)

Estrutura
8.000 funcionários, sendo 2.000 médicos (30% foram cortados com a crise), e 263 mil procedimentos por mês, sendo 1.555 cirurgias (só no Hospital Central)

Salários
Após atrasos, hoje estão em dia

Recursos
Vêm do SUS, governo do estado, Prefeitura de SP, convênios e doações. Instituição também pegou um empréstimo de R$ 360 milhões com a Caixa em 2016 e tenta negociar seu período de carência

Déficit mensal
R$ 14 milhões, em decorrência das dívidas, de impostos e do “excesso de funcionários”, segundo a instituição

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