Busca por sobreviventes em escombros precisa vencer blocos de concreto

Bombeiros usam escavadeiras em entulhos de prédio que desabou em SP

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Escavadeira remove escombros do prédio Wilton Paes de Almeida, que caiu no centro de SP
Escavadeira remove escombros do prédio Wilton Paes de Almeida, que caiu no centro de SP - Leonardo Benassatto/Folhapress
São Paulo

Dois dias se passaram desde que o edifício Wilton Paes de Almeida, ocupação de sem-teto no centro da capital paulista, pegou fogo e caiu. De lá para cá, os bombeiros seguiram um protocolo: esguicharam água sem parar sobre a montanha de escombros para conter o incêndio principal e inibir novos focos.

À medida que avançavam pelo entulho, as equipes de resgate foram manualmente removendo blocos de concreto para seguir o rastro deixado pelos cães farejadores. Também varreram os destroços com câmeras térmicas e até drones. O processo, muitas vezes lento, exigiu silêncio. Tudo para perceber se embaixo deles havia algum sinal de vida.

Oficialmente, os bombeiros trabalham com quatro desaparecidos: Ricardo, conhecido como "Tatuagem", e uma mãe, Selma, e seus dois filhos gêmeos. A Prefeitura de São Paulo também diz que ainda não localizou o paradeiro de 49 moradores cadastrados que habitavam a ocupação popular antes da tragédia.

 

Mas essa busca manual ficou para trás. O capitão Robson Mitsuo explica. “Não digo que é impossível [não ter sobreviventes] porque sempre há esperança. Mas é muito improvável. São condições incompatíveis com a vida.”

Sem ter até o momento nenhum indício de sobreviventes, os trabalhos passaram de fase com a chegada de escavadeiras nesta quinta-feira (3). “Elas estão retirando a cobertura do bolo para a gente chegar ao centro do escombros”, explica o capitão Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Essa cobertura, segundo Palumbo, é formada por grandes blocos de concreto. "Eles estão concentrados no meio dos destroços, bem no local onde acreditamos que possam estar os desaparecidos", afirma Palumbo.

O porta-voz da corporação não soube precisar quanto tempo será necessário para a equipe chegar à região mais profunda do entulho, que mede 15 metros de altura. Mas os trabalhos já ganharam fôlego. “Cada caçamba sai daqui com até 15 toneladas de escombros”, diz Palumbo. 

Em outra frente, os bombeiros buscam acessar a caixa de inspeção do prédio para poder cortar a energia elétrica que ainda circula pela edificação. Essa operação precisa ser rápida. "Se a gente não encontrar logo as caixas, teremos que cortar a luz da região toda e isso vai afetar a vida de muita gente", diz.

BOLSÕES

Os maquinários também tomaram os destroços, de acordo com Palumbo, após a equipe descartar a presença de bolsões vitais no subsolo do edifício. “As lajes ficaram entaladas umas nas outras. Até agora, não encontramos nenhum bolsão.” Nos bolsões, as vítimas têm ar para respirar e, por isso, sobrevivem, a depender do tempo em que ficam soterradas.

A meta não é correr. “Não podemos ter pressa. As máquinas vão agilizar o serviço, mas continuaremos cuidadosos para darmos as respostas que todos querem.”

​​​O secretário de Segurança Pública, Mágino Alves, afirmou na tarde desta quinta-feira (3) que um curto-circuito foi a causa do incêndio que levou ao desabamento do edifício. 

Na avaliação de Marcelo Bruni, gerente metropolitano do ​Crea-SP, o prédio estava “numa situação fora de controle, infelizmente”. “Uma estrutura metálica, num incêndio, é muito suscetível à mudança de temperatura. Se podemos dizer que houve uma circunstância feliz é que o prédio desabou sobre ele mesmo, não sobre vizinhos. Danificou a igreja, mas, considerando o que podia ter havido, foi menos grave”.

Durante a madrugada, o incêndio atingiu outro prédio ao lado, que corre risco de cair e destruiu 80% da Igreja Martin Luther, a primeira paróquia evangélica luterana da capital, inaugurada em 1908.

Ao todo, 366 bombeiros já atuaram na ocorrência desde o início do incêndio, com 57 caminhões. Os agentes da linha de frente têm no currículo um curso de busca e resgate em estruturas colapsadas. 

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