Desabastecimento esvazia acampamento de vítimas de incêndio em São Paulo

Voluntários que levavam comida, água e artigos de higiene deixaram de aparecer

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São Paulo

Da montanha de mantimentos que ocupava boa parte da cozinha improvisada no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, sobraram poucos sacos de arroz, feijão e macarrão.

As doações que não paravam de chegar ao acampamento desde a queda do edifício Wilton Paes de Almeida, no dia 1º, que deixou mais de 200 famílias desalojadas, estão cada vez mais raras após a paralisação dos caminhoneiros que afetou a entrega de combustível no país inteiro.

Sem ter como abastecer seus veículos, muitos voluntários que levavam comida, água e artigos de higiene com frequência ao acampamento não apareceram mais.

Carros que descarregavam sobras de pães diariamente também não circulam mais pelo largo. Com isso, o café da manhã e da tarde dos acampados têm se resumido a café preto e bolachas.

Nesta segunda-feira (28), os acampados receberam doação de 150 fardos de garrafas de água, mas não tinham como transportar o carregamento. Um voluntário que trabalha com carreto acabou conseguindo levar essa água entre um trabalho e outro.

Voluntários que comandavam a cozinha improvisada também deixaram de ajudar. Com isso, as refeições que incluíam ao menos uma fonte de proteína e salada têm se resumido a arroz, feijão e macarrão. "Se continuar nesse ritmo, vamos passar fome", diz Vera Lúcia dos Santos, 43, responsável pela cozinha.

As caixas de isopor com gelo usadas para armazenar carnes, linguiças e salsichas estão vazias desde a última quinta-feira (24), quando o abastecimento de combustível na cidade ficou crítico. "Ainda temos doações de gelo, mas mistura, que é bom, nada", diz Vera.

Cerca de 30 famílias continuam acampadas no largo do Paissandu à espera de uma garantia de moradia. A maioria vivia no prédio invadido por sem-teto que pegou fogo e desabou. Mas as doações que chegavam ao acampamento também atraíram moradores de outras ocupações.

Ainda há muitas crianças no local, apesar das condições insalubres. Elas dormem em barracas, sujeitas às baixas temperaturas dos últimos dias. A Promotoria de Infância e Juventude expediu liminar que exige da prefeitura dados detalhados sobre as famílias e melhores condições de trabalho aos conselhos tutelares --a gestão diz que já respondeu à Promotoria, com lista das famílias atendidas.

A Justiça mandou a prefeitura disponibilizar banheiros químicos aos sem-teto após liminar da Defensoria Pública de São Paulo e da União que pedia melhores condições de permanência no local. Os órgãos pediram também que um prédio indicado como ocioso no centro fosse ocupado pelas famílias, o que foi negado.

A gestão Bruno Covas (PSDB) afirmou que os moradores do prédio cadastrados antes da tragédia estão recebendo auxílio-moradia.

Em nota, a prefeitura diz que, desde o acidente, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social já contabilizou 1.593 pernoites em equipamentos sociais, com acesso a banho, alimentação e informações sobre as possibilidades de atendimento na rede socioassistencial da cidade.

A gestão Bruno Covas (PSDB) diz ainda que mantém equipes de assistência social 24 horas no local e convida insistentemente os desabrigados para os centros de acolhida. "A maioria das famílias vítimas do desabamento já foi acolhida pela prefeitura, seguiu para casas de parentes ou foi realocada pelo próprio movimento. Grande parte das pessoas que neste momento se encontram no largo Paissandu não é de vítimas do desabamento, mas sim de pessoas atraídas pelas doações feitas no local."

 Até o momento, de acordo com a prefeitura, 144 famílias vítimas do desabamento já começaram a receber o auxílio-moradia pelo governo do estado.

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