Entenda a situação de emergência em SP e as consequências da crise

Crise de desabastecimento afetou serviços essenciais na capital paulista

São Paulo

O prefeito Bruno Covas (PSDB) decretou nesta sexta-feira (25) situação de emergência na cidade de São Paulo devido à paralisação de caminhões que trava estradas em todo o país e causa, entre outros transtornos, uma crise de desabastecimento na capital paulista.

Entenda, a seguir, por que a medida foi tomada e qual é a situação dos serviços essenciais da cidade.

 

SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA

Por que o prefeito de São Paulo decretou situação de emergência?
A prefeitura ficou de mãos atadas na manhã desta sexta (25), quando a polícia avisou que não usaria a força para ajudar a abastecer serviços essenciais, eventualmente rompendo piquetes e abrindo corredores para a passagem de caminhões-tanque. A gestão Bruno Covas (PSDB) apostava em uma liminar que garantia o abastecimento desses serviços —como saúde, transporte e limpeza urbana— e até havia conseguido combustível com cidades próximas, mas, sem a PM, não conseguiu trazer o diesel à capital até esta manhã. A saída, então, foi decretar a situação de emergência. Mais tarde, a escolta foi concretizada.

O que isso significa?
A prefeitura pode apreender bens privados, como combustível estocado em postos, fazer compras sem licitação e realizar gastos sem depender de previsão no orçamento. A gestão também criou um comitê de crise —com o prefeito, os secretários de Justiça, Governo, Fazenda e Segurança Urbana e o procurador-geral do município— e quer suspender serviços administrativos não essenciais para economizar combustível.

E daqui para frente?
Se o desabastecimento continuar, o prefeito pode decretar ponto facultativo ou feriado municipal. Caso o cenário piore, a situação de emergência pode evoluir para estado de calamidade pública, que é quando o restabelecimento da normalidade depende tanto da prefeitura quanto dos governos estadual e federal.

Quanto tempo dura a emergência?
A partir da publicação em Diário Oficial, 180 dias. Segundo a prefeitura, a situação continuará “até que cessem as circunstâncias de emergência”.


SERVIÇOS ESSENCIAIS

A crise afetou o policiamento?
Já desde quinta (24), a Polícia Militar reduziu o patrulhamento nas ruas, e os veículos têm passado 50% mais tempo estacionados do que o normal —em geral, os carros circulam por 40 minutos e ficam 20 minutos estacionados, agora são 30 minutos andando e 30 parados. A operação continua nesta sexta (25).

Vai ter ônibus nos próximos dias?
Sim. No fim de semana, o sistema deve operar com 40% da frota habitual, que já é reduzida. Isso será possível porque a prefeitura conseguiu escoltar 240 mil litros de óleo diesel de outras cidades. A circulação de segunda-feira (28) dependerá do que sobrar nos estoques e de novas compras. Em média, as empresas de ônibus da cidade precisam de 1,4 milhão de litros de óleo diesel por dia.

Vai ter gasolina para ambulância?
Há combustível suficiente para abastecer ambulâncias do Samu até o fim de domingo (27). Segundo a prefeitura, todas as unidades municipais de saúde estão funcionando normalmente e, até o momento, não houve registro de falta de medicamentos ou de outros insumos.

Vai ter coleta de lixo?
A coleta domiciliar está garantida até este sábado (26), durante o dia. Depois disso, as empresas vão avaliar se os estoques serão suficientes para o serviço noturno de sábado. Os serviços de varrição continuam reduzidos, mas a coleta hospitalar, a limpeza de feiras livres e o recolhimento de animais mortos está mantido. A coleta de lixo na cidade consome 60 mil litros de diesel por dia.

Falta comida nas feiras e nos supermercados?
Produtos perecíveis que dependem de abastecimento diário, como frutas, legumes e verduras, além de carnes, leites e derivados, são os itens mais em falta nos supermercados paulistas. Eles correspondem a 36% do faturamento desses estabelecimentos, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados). Os outros tipos de alimentos devem durar até os estoques acabarem —estabelecimentos já exibem placas alertando para produtos ausentes, e a Ceagesp está operando em 30% de sua capacidade.

Os alimentos estão mais caros?
Alguns itens. Um saco de 50 kg de batata, por exemplo, saltou de R$ 80 para até R$ 220 na Ceagesp de Ribeirão Preto (SP).

Qual é a situação dos aeroportos?
Os principais aeroportos de São Paulo continuam com operações normais. O aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), afirmou que seu abastecimento acontece também por dutos, o que deve impedir impactos. Já Congonhas (zona sul) disse que pode ter problemas caso a situação persista, mas não informou o quanto ainda pode durar suas reservas. 

Pelo país, ao menos 12 aeroportos estão sem combustível. Eles continuam abertos, segundo a Infraero, mas só pousam e decolam se já tiverem reserva de querosene: Brasília (DF), Carajás (PA), São José dos Campos (SP), Uberlândia (MG), Ilhéus (BA), Palmas (TO), Goiânia (GO), Juazeiro do Norte (CE), Maceió (AL), Recife (PE), Joinville (SC) e João Pessoa (PB).

O desabastecimento reflete no sistema funerário da cidade?
Sim, mas ele continua funcionando. A prefeitura está fazendo estratégias de contingência, como redução dos carros e maior planejamento dos trajetos, e os funcionários têm pedido às famílias que optem por enterrar os parentes em cemitérios próximos aos locais do velório, para evitar grandes deslocamentos. Há combustível suficiente para o serviço até o fim deste sábado (26). 

E o rodízio de carros, está em vigor?
Ele foi suspenso nesta quinta e sexta-feira, devido à redução da frota de ônibus. Aos finais de semana, já não há restrição à circulação de carros. Se a situação não se normalizar no fim de semana, a tendência é que o rodízio seja suspenso novamente na segunda (28).

Quais foram os reflexos no trânsito?
Nesta sexta (25), mesmo sem o rodízio, os índices de congestionamento na capital paulista ficaram abaixo da média, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Nesta sexta, o pico de congestionamento pela manhã foi às 8h30, com 7,3% das vias engarrafadas (63 km). A média no horário é de 10,5% (91 km).

O transporte e merenda escolares estão sendo afetados?
A rede municipal teve rotina normal nesta sexta, exceto uma redução de 69% no atendimento do transporte escolar por decisão dos próprios condutores, e não por falta de combustível. Na segunda (29), a merenda terá um cardápio adaptado aos insumos em estoque nas escolas e as entregas do programa Leve-Leite podem ser afetadas. A prefeitura afirma ter reforçado a orientação para que o transporte seja realizado na segunda.​


COMBUSTÍVEIS

Até quando devem durar os combustíveis na cidade?
Os postos da Grande São Paulo não têm mais gasolina comum e nem etanol nas bombas. Segundo o Sincopetro (sindicato que representa os postos do estado), o que ainda restava era gasolina aditivada em pouquíssima quantidade, com previsão para acabar na noite desta sexta (25).

Quantos quilômetros um carro anda com tanque cheio de gasolina, em média? E com álcool?
Cada carro tem um desempenho. Em média, os movidos a gasolina andam entre 300 km e 400 km com o tanque completamente cheio. Já os abastecidos com etanol, entre 280 km e 320 km.

Como dirigir economizando combustível?

  • Evite arranques; a aceleração precisa ser progressiva, principalmente no trânsito congestionado
  • Quando o sinal estiver vermelho ou o trânsito estiver parado, ao invés de frear o veículo, pare de acelerar
  • Reduza as marchas ao diminuir a velocidade, isso ajuda a parar o carro e poupa os freios
  • Opte por percursos em que a velocidade do carro tem mais chances de ser constante, mesmo que o trajeto seja mais longo, como é o caso das vias expressas
  • Faça uma faxina; quanto mais peso um carro carrega, mais combustível ele “bebe”
  • Feche as janelas para diminuir o atrito com o ar e use o ar-condicionado com parcimônia

É possível comprar gasolina a granel?
Sim, mas a venda de combustíveis em recipientes avulsos depende dos postos, que podem aceitar ou não fornecer o produto, por causa do perigo de explosão. A Agência Nacional de Petróleo estuda desde 2013 uma regulamentação específica para a venda. A futura norma vai regulamentar o tipo de galão e a quantidade armazenada com certificação do Inmetro. Quem for pego transportando combustível em recipientes descartáveis pode ser multado em até R$ 1.000, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

Quais são os perigos?
Segundo Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros de SP, garrafas pet não foram feitas para armazenar combustível. Em contato com o plástico, a gasolina pode reagir, causar fissuras e vazamentos. Se a garrafa estiver em casa, o risco de explosão é iminente.

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