Descrição de chapéu trânsito

'Estranha', São Paulo tem sexta-feira com pouca gasolina e cara de feriado

Moradores trabalham de casa e cancelam atividades por paralisação

São Paulo

A paralisação de caminhoneiros, que entra no 5º dia nesta sexta-feira (25), afetou a rotina de moradores de São Paulo, que precisaram trabalhar de casa, usar outros meios de transporte e cancelar atividades. 

O trânsito da cidade também ficou mais tranquilo do que o normal, mesmo com o rodízio de carros suspenso. Segundo a CET, o congestionamento durante a amanhã não ficou acima da média em nenhum momento. 

O pico foi às 8h30, com 7,3% das vias engarrafadas (63 km). A média no horário, no entanto, é de 10,5% de congestionamento (91 km).

 
Marginal Tietê vista de cima, vazia
Com paralisação dos caminhoneiros e a falta de combustíveis, Marginal Tietê fica vazia nesta sexta-feira (25) - Danilo Verpa/Folhapress

O motorista de Uber Gustavo de Sousa, 24, afirma que a cidade ficou mais vazia. “Está diferente São Paulo, meio estranho”, diz ele, que ficou uma hora na fila para abastecer o carro. “Acho que amanhã eu não consigo mais rodar”, conta. 

Wagner de Oliveira, 60, também motorista de Uber, disse que a sexta estava “com cara de sábado”. “Está muito tranquilo, porque ninguém tem combustível para sair. Vários motoristas de Uber pararam de circular”. Ele também não conseguiu abastecer o carro. 

Os dois motoristas eram a favor da paralisação. “Alguém precisa tomar uma atitude”, afirma Wagner. Segundo ele, motoristas de aplicativos também se mobilizaram em prol da paralisação nesta sexta. 

A manicure Rosângela Bandeira, 46, decidiu pedalar 9 km, de Santo Amaro ao Ibirapuera (zona sul), para não perder o curso de cabeleireira. “Eu costumo ir de ônibus, mas como hoje não tinha, decidi ir de bicicleta”, conta ela, que considerou a experiência positiva. “Foi um divertimento e ainda economizei”. De acordo com a prefeitura, cerca de 60% dos ônibus programados circularam no pico da manhã desta sexta.

Para realizar um bico de faxineira no sábado, em Parelheiros, Rosangela deve pedalar novamente, cerca de 1h20. Apesar do transtorno, ela apoia a paralisação. “A gasolina está muito cara, virou um luxo.”

O administrador Hélio Carvalho, 53, precisou buscar o filho de carro no Colégio Piaget, em Imirim (zona norte), porque a van escolar não circulou. “Muitos alunos não conseguiram chegar e faltaram”, diz o filho, Carlos, de 13 anos. Hélio trabalha em Minas Gerais e precisou voltar antes para São Paulo. 
“Eu venho para o fim de semana, mas acabei antecipando”.

O administrador conseguiu abastecer o carro em MG, antes de sair. “Precisei passar por vários bloqueios. Eu apoio a paralisação por um lado, mas eles intimidam, com pau na mão, dá medo”, afirma.

Alessandra Araújo, 42, é totalmente contra. “Não acho certo impedir o direito de ir e vir”, explica. A consultora disse que precisou trabalhar de casa, porque o carro está sem gasolina, o transporte estava escasso, e a escola do filho cancelou as aulas. 

“Moro do lado de uma avenida e está um silêncio, não passa um ônibus aqui”, diz ela, sobre o bairro Água Rasa, na zona leste. Segundo ela, a escola do filho, particular, avisou que os professores não conseguiram chegar e as aulas seriam suspensas.

“Também não teria como levar meu filho na escola, porque tentei colocar gasolina, e tinha só um restinho. É arriscado sair com o tanque quase vazio”, conta. Segundo ela, o chefe foi compreensivo com a situação. 

Além do trabalho, muito paulistanos precisaram cancelar programas e compromissos. A comerciante Liriane Adami, 53, desmarcou atividades no fim de semana para economizar combustível. “A gente ia fazer um passeio, mas desistiu. Tenho criança e uma mãe de 81 anos, se tiver qualquer emergência, não posso ficar sem o carro”, afirmou ela, enquanto buscava a filha na escola, em Higienópolis (centro). 

O pronunciamento do presidente Michel Temer nesta sexta, com a possibilidade de usar as Forças Armadas para liberar estradas, foi citado pela comerciante como mais um motivo para ficar em casa. “Não tem clima para sair. Estamos preocupados, tensos”, diz. 

O analista de sistemas Rafael Vilar, 33, também desmarcou um encontro com clientes, que seria realizado neste sábado. Na sua empresa, de tecnologia, várias reuniões de segunda-feira já foram canceladas. Rafael esperou uma hora para abastecer o carro, mas conseguiu chegar ao trabalho. “Esperei para ver se estaria tranquilo e saí mais tarde do que o normal.”

Com a falta de combustível, voos precisaram ser cancelados e algumas companhias aéreas flexibilizaram a remarcação. A tradutora Roseli Santos, 56, ia viajar para Porto Alegre, para aniversário de 83 anos do pai, mas decidiu desmarcar. Seu voo não havia sido cancelado, mas ela temia não conseguir retornar, na segunda-feira. 

“Pelo que os meus parentes falaram, em Porto Alegre está pior: sem ônibus, sem gasolina. Fica um clima de insegurança”, justifica. A tradutora pagou cerca de R$ 600 para remarcar as passagens da família. “Acho que, dada a situação, todas as companhias deveriam liberar para trocar sem taxa”, diz. O marido, que já estava em Porto Alegre, tentava retornar para São Paulo. 

Já o empresário Márcio Montesinos, 36, foi até o aeroporto de Congonhas, passou pelo raio-x e chegou até o portão de embarque. Só então foi informado de que não poderia viajar, nesta sexta de manhã.

 “A gente ligou no dia anterior e o voo estava confirmado. Mas no embarque me disseram que a conexão, de Belo Horizonte para Ipatinga, não poderia ser feita por falta de combustível”, afirmou ele, que fez a mala, acordou de madrugada e desmarcou compromissos de trabalho para poder viajar. 

“Fora que era aniversário da minha sogra, ela já tinha planejado toda uma recepção, ficou bem chateada”, conta ele, que se diz preocupado com a paralisação. “Eu entendo os motivos, mas o direito de ir e vir é constitucional. Está prejudicando muita gente.”

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