Fumaça invade janelas e afeta vizinhos de prédio que desabou em SP

Crianças usam panos no rosto para ajudar na respiração e conter a tosse

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Edna e a filha Maria Izabel observam local em que prédio desabou no centro de São Paulo
Edna e a filha Maria Izabel observam local em que prédio desabou no centro de São Paulo - Marcelo Justo/ Folhapress
São Paulo

​Moradores de prédios vizinhos também sofreram o impacto da queda do edifício Wilton Paes de Almeida​, ocorrida na madrugada de terça-feira (1º), após um incêndio. Alguns também tiveram que deixar suas casas, enquanto outros sofrem com a fumaça deixada pela tragédia. 

A aposentada Edna Marta Nobre, 57, viu o prédio desabar da janela de casa, de madrugada. Os vidros do seu apartamento ficaram pelando, e ela precisou colocar um ventilador voltado para a janela para tentar amenizar o calor. 

A casa foi invadida por fumaça desde o início do incêndio. Nesta quarta (3), Edna mantinha as janelas fechadas. Sua filha, Maria Izabel, 10, segurava um paninho no rosto para respirar e tossia. A família chegou a arrumar documentos e roupas para evacuar o prédio, mas não foi necessário. 

Já em outro prédio vizinho, os moradores precisaram deixar suas casas e passaram a madrugada na rua. 

Um deles, o comerciante Fernando Cruz Costa, 55, disse que desceu correndo o prédio, junto com a esposa, para ver o que estava acontecendo. Ele também é dono de uma perfumaria, de frente para o local do incêndio, que foi fechada pelos bombeiros. 

“Nem entrei lá, porque não me deixaram chegar perto. Não sei o estado do estoque, se está tudo destruído ou se as coisas se salvaram”, disse.

Moradores de prédios interditados do largo reclamam que não foram atendidos pela assistência social. Segundo um dos moradores, são cerca de 135 famílias. “Desde o incêndio estou dormindo com a minha esposa e três crianças no carro. Tem gente dormindo na rua”, afirma o engenheiro Guilhermo Salazar, 40. 

Ele diz que os moradores querem um hotel para que possam passar as noites. “Não vamos para abrigo, não tem condições. A assistência social disse que nem sabia sobre nós. Só interditaram os prédios, mas não fizeram um cadastro dos moradores”, afirmou.

ACAMPADOS

Com muitas pessoas ainda acampadas no largo do Paissandu, a Prefeitura de SP fez uma reunião, na noite desta quarta, com representantes da Polícia Militar e de movimentos sociais para discutir como será feita a remoção das famílias. 

Benedito Roberto Barbosa, da União dos movimentos de moradia de São Paulo, disse que vai tentar convencer as famílias a irem para o Cisarte, espaço cedido aos movimentos por moradia, no viaduto do Pedroso. 

"Mas, se as famílias que são vítimas de incêndio quiserem ficar, nós não vamos obrigar ninguém a sair, até porque a praça é pública", disse. 

O secretário de Habitação, Fernando Chucre, que também estava na reunião, afirmou que a maior parte das famílias deve ir ainda essa noite para um abrigo e disse que pediu para a polícia não fazer a lavagem na praça nesta noite.

"Amanhã, com levantamento e o início do atendimento com o auxílio aluguel, as famílias atendidas vão se retirando de modo a diminuir o fluxo de pessoas no acampamento diante da igreja", afirmou.

Segundo o secretário, a presença na praça não garante o atendimento e sim o credenciamento. "As famílias que moravam no prédio vão receber auxílio aluguel e, em trinta dias, governo federal, estadual e municipal vão divulgar o atendimento definitivo para essas pessoas". 

Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, também esteve no local na noite desta quarta e disse que acompanha a situação desde a notícia do incêndio. Segundo ele, as paróquias e organizações estão se mobilizando para arrecadar doações. Ele cumprimentou moradores que permaneceram na praça. "As pessoas perderam tudo e estão com medo de perder o mínimo que lhes restou, que é esse espaço. Tem que ter muita paciência e compreensão", afirmou.

BUSCAS

Os bombeiros consideram quatro pessoas desaparecidas nos escombros. Além de Ricardo, que estava prestes a ser içado pelos bombeiros quando o prédio desabou, parentes relataram o desaparecimento também de uma mãe e e seus dois filhos gêmeos, de nove anos, que estariam no prédio. 

Na terça (1º), vizinhos já perguntavam repetidamente por Selma, conhecida por ser mãe de dois meninos idênticos. O vendedor Antônio Ribeiro Francisco, 42, conhecido pelo apelido de Índio, a identificou como sua ex-mulher, Selma Almeida da Silva, com quem ele teria conversado na noite anterior à tragédia. 

“Pouco antes do incêndio, falamos por telefone. Ela me disse: 'Índio, vou plantar umas plantinhas e vou dormir porque estou muito cansada”, disse. 

Apesar do número de desaparecidos contabilizado pelos bombeiros, a prefeitura afirma desconhecer o paradeiro de 49 pessoas, que estavam entre os cadastrados em março do ano passado. Mas, como a rotatividade no local é alta, é possível que elas nem estivessem mais dormindo lá —assim como outras podem ter entrado no local desde então.

O Corpo de Bombeiros trabalha com cães farejadores e estão munidos com drones e câmeras sensíveis ao calor para tentar localizar possíveis sobreviventes. Na madrugada de quarta para quinta-feira (3), as equipes deverão mudar de estratégia de busca. 

A estimativa dos bombeiros é de que as buscas possam durar ao menos uma semana. 

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