Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Largo do Paissandu vira acampamento para sobreviventes de incêndio em São Paulo

150 pessoas se amontoam em praça; líder de ocupação quer encontro com Bruno Covas

Moradores de prédio que desabou dormem no largo do Paissandu
Moradores de prédio que desabou dormem no largo do Paissandu - Rodrigo Borges Delfim/Folhapress
Rodrigo Borges Delfim
São Paulo

​​Pelo menos 150 pessoas passaram a noite no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, após o desabamento do antigo prédio da Polícia Federal que funcionava como ocupação. Entre os acampados há tanto moradores do edifício como moradores em situação de rua.

Ao longo da madrugada, uma equipe da Smads (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) ficou no local para cadastrar e encaminhar aqueles que manifestassem interesse em ir para abrigos. Vans chegaram e saíram ao longo da madrugada com antigos moradores e pessoas em situação de rua.

Segundo a SMADS, entre 19h de terça (1º) e 7h desta quarta (2), 42 pessoas foram para abrigos, sendo 41 para o abrigo Prates —além de seis crianças— e outro para o abrigo Pedroso. 

Os Bombeiros trabalham com uma estimativa de 44 pessoas ainda não localizadas pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Representantes da secretaria que estão no local aguardam cruzamento de informações com a Secretaria da Habitação para obter dados mais concretos. Um novo balanço deve ser divulgado no período da manhã.

Segundo o Corpo de Bombeiros, atualmente 75 agentes trabalham nos escombros do prédio, em três frentes: busca e salvamento, continuidade do rescaldo e liberação de vias no entorno, para que a Eletropaulo possa desligar a rede elétrica do edifício.

'QUEREMOS SOLUÇÃO'

Ricardo Luciano Lima, o Careca, um dos coordenadores do movimento LMD (Luta por Moradia Digna), está no local para ajudar a orientar as pessoas que estão na praça. Lima disse também que as pessoas são livres para decidir ficar na praça, ir para a casa de parentes ou para os albergues.

"Não cabe a nós julgar se quem está aqui é morador do prédio ou morador de rua. Estamos aqui para ajudar no que for possível e cabe ao poder público atender essas famílias".

Segundo Lima, há pelo menos outras quatro ocupações nas quais o movimento está presente. Ele disse também que há uma comissão de representantes de movimentos sociais e advogados se formando para tentar uma reunião com a Prefeitura.

"O que esperamos não é atenção somente, queremos soluções. Vamos propor e não somente ouvir o que a Prefeitura vai nos dizer".

DORMINDO NA PRAÇA

Entre os antigos residentes da ocupação há pessoas que dizem não terem sido informadas da possibilidade de passar a noite em centros temporários de acolhimento da Prefeitura.

"A Prefeitura só cadastrou para receber cesta básica e kit higiene, não foi falado para mim sobre ida a albergue", disse a ajudante de cozinha Suzana Souza, que morava há quatro anos na ocupação, exibindo um protocolo da secretaria com essas opções marcadas. Ela também se queixou do tratamento recebido de alguns assistentes sociais.

A Secretaria de Assistência Social esclarece que há dois cadastros distintos, um para receber cesta básica e kit higiene e outro para pessoas interessadas em ir para centros temporários de acolhimento. E que ambos foram oferecidos às famílias na praça

Moradores em situação de rua que estão no largo do Paissandu junto com os moradores da ocupação se queixam de assistência insuficiente por parte da Prefeitura de São Paulo. "Só se mexem quando acontece uma tragédia", disse um deles, que preferiu não se identificar.

SOLIDARIEDADE

Por volta das 3h, cinco pessoas de uma hamburgueria da região do M'Boi Mirim (zona sul) distribuíram 170 sanduíches para as pessoas que estão na praça.

"Vimos as pessoas na praça por meio da mídia e resolvemos ajudar de alguma forma", comentou Caroline Gomes, que é proprietária da lanchonete com o marido, Dagoberto Freire. "Fazemos o que está ao nosso alcance", comentou.

O ator congolês Tresor Muteba, que já viveu em ocupações, articula uma intervenção teatral no largo do Paissandu como forma de mostrar apoio e homenagear os moradores do prédio que desabou, tanto brasileiros como migrantes internacionais.

"Há migrantes e brasileiros vivem em ocupações. O que aconteceu aqui foi muito forte e não conseguíamos ajudar. Quero homenagear essas pessoas. E muitos migrantes são acolhidos primeiramente pelas ocupações".

Em torno de 25% dos moradores da ocupação eram de outras nacionalidades - Bolívia, Peru, Nigéria, Haiti, República Democrática do Congo e Filipinas, segundo moradores e pessoas que conheciam a ocupação.

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