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Mãe de criança cadeirante cria playground inclusivo no interior de São Paulo

Projeto tem brinquedos com cinto de segurança e gangorras com travas

Maria Eduarda, 10, brinca com o irmão, João, 6 em playground inclusibo
Maria Eduarda, 10, brinca com o irmão, João, 6 em playground inclusibo - Joel Silva/ Folhapress
Fernanda Testa
Ribeirão Preto

A cena de Maria Eduarda, 10, brincando com o irmão João Lucas, 6, no gira-gira do parquinho em uma praça de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, parece comum não fosse o detalhe do brinquedo: ele tem espaço para uma cadeira de rodas, o que permite a Duda, que não anda nem fala, fazer parte da brincadeira.

Graças à mãe dela, Selma Meneses Nalini, 34, a menina e outras crianças com deficiência têm a oportunidade de brincar em playgrounds 100% acessíveis. Desde 2016, Selma conduz o projeto Duda Nalini, que implanta parquinhos inclusivos em diferentes regiões do município. 

Três espaços (nas zonas sul, norte e leste) já foram contemplados com os playgrounds, e um quarto local deve ser inaugurado até o fim deste ano.

Além do gira-gira com acesso para cadeira de rodas, os playgrounds têm brinquedos como balanços com cinto de segurança específico, gangorras com travas e assentos maiores, com cinto ajustável. Os equipamentos também têm painéis de comunicação alternativa —para pessoas sem fala ou sem escrita funcional.

Desde que soube da má-formação congênita da filha, no início da gravidez, Selma procura meios de garantir qualidade de vida para a menina.

Portadora de agenesia cerebelar (ausência de cerebelo), Duda nasceu sem expectativa de sobrevida. No decorrer dos anos, no entanto, passou por inúmeras internações e cirurgias e segue estável, prestes a completar 11 anos.

Nas idas e vindas de hospitais, Selma conheceu famílias semelhantes à dela. Começou a organizar, em casa, eventos como piqueniques e festinhas temáticas para promover o encontro entre mães e crianças. 

“As mães trocavam experiências. Era um ambiente de apoio e, ao mesmo tempo, lazer”, diz. Com o passar do tempo, o grupo de mães cresceu e o espaço ficou pequeno. Também Selma viu que o caçula queria um meio de brincar mais com a irmã.

Ela passou a pesquisar a acessibilidade em outros países. “Vi que existiam fábricas de brinquedos inclusivos, e pensei que com esses brinquedos eu poderia fazer algo permanente para as crianças. Foi aí que veio a ideia de instalá-los em áreas públicas”. 

Em 2016, protocolou um projeto na prefeitura. Após tramitar por seis pastas diferentes, foi finalmente aprovado no início do ano seguinte.

Com ajuda da iniciativa privada, Selma consegue a doação, implantação e manutenção dos brinquedos em áreas públicas. Cabe à prefeitura apenas autorizar o uso dessas áreas para que os playgrounds sejam construídos. 

O primeiro espaço foi inaugurado em junho do ano passado, na zona sul; o segundo, em outubro em uma praça na zona leste. Em abril deste ano, um parque na zona norte foi contemplado. Outro espaço, na zona sul, deve ganhar o parque  inclusivo ainda este ano. 

Característica comum a todos os locais, os brinquedos permitem que crianças com e sem deficiência brinquem juntas. “Não queria algo somente para pessoas com deficiência. Quero acabar com essa cultura da exclusão e do isolamento. Colocando todos juntos, acredito que podemos diminuir o preconceito”. 
 

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