Moradores de rua e desabrigados sofrem com a chegada do frio em SP

Dois sem-teto foram encontrados mortos nesta madrugada na capital

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Moradores de rua tentam de proteger do frio com papelões e cobertores no Pateo do Collegio, centro de São Paulo
Moradores de rua tentam de proteger do frio com papelões e cobertores no Pateo do Collegio, centro de São Paulo - Martha Alves/Folhapress
São Paulo

A mais fria madrugada deste ano na cidade de São Paulo castigou moradores de rua nesta segunda-feira. Também foram afetados pela baixa temperatura os desabrigados do prédio que desabou no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, e que seguem vivendo em barracos diante dos escombros com seus filhos.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a mínima oficial da capital paulista atingiu 9,3ºC, a menor temperatura para maio desde maio de 2007, quando no dia 25 daquele ano foram registrados 8,5ºC. O CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) apontou temperaturas ainda menores. No bairro Capela do Socorro (zona sul), os termômetros alcançaram 4ºC.

Em diferentes pontos da cidade, moradores de rua buscavam estratégias para driblar o frio. Eles se aproximavam uns dos outros na hora de dormir, buscavam marquises, utilizavam barracas, papelões, cobertores, barracas de camping e lonas pretas para espantar o frio.

No Pateo do Collegio, na região central, um grupo com cerca de pessoas dormia encolhida ao relento. Uma delas tinha apenas papelões como proteção contra o frio. Guardas Municipais que fazem a segurança patrimonial do local disseram que perguntaram ao grupo se alguém gostaria de ir para um albergue, mas poucos aceitaram.

Nesta madrugada, dois moradores de rua foram encontrados mortos na capital, um no centro e outro na zona oeste. Os nomes dos dois homens não foram divulgados. Segundo a Polícia Militar, nos dois casos, as vítimas foram encontradas sem agasalhos e cobertores. Uma suspeita é que possam terrrido por hipotermia, mas a causa somente será confirmada após perícia no IML (Instituto Médico Legal). Em nenhum deles havia sinais de violência. As mortes serão investigadas pela Polícia Civil.

Para o padre Julio Lancelloti, da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, apesar de as duas vítimas terem sido encontradas mortas na madrugada mais fria do ano, "será pouco provável que a causa dos óbitos acabe sendo registrada como hipotermia." "Eles [legistas] sempre apontam outras patologias pré-existentes", disse.

Segundo o religioso, mais de 200 pessoas procuraram a instituição após a chegada do frio. "Estamos precisando de roupas masculinas e de cobertores. Sem assistência, mais irmãos de rua continuarão morrendo".

Por meio de nota, a gestão Bruno Covas (PSDB) diz que acolheu 326 pessoas nesta madrugada. A prefeitura informou ainda que intensificou os atendimentos à população de rua desde o dia 17 de maio, quando colocou em operação o Plano de Contingência para Situações de Baixas Temperaturas. 

A medida, que estará em vigor até 30 de setembro, será intensificada toda vez que a temperatura atingir o patamar igual ou inferior a 13ºC na capital paulista. Segundo a prefeitura, dois abrigos emergenciais serão abertos, um na região central, com 100 vagas, e outro na Lapa, com 80. A rede de assistência também contará com 135 Serviços de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes, com 2.570 vagas.

Já no acampamento montado pelos desabrigados do edifício que caiu após pegar fogo, a reportagem da Folha encontrou dois homens com cobertores. Eles fizeram a segurança do local durante madrugada para evitar furtos. O ajudante geral Fagner Apolinario da Silva, 32, disse que as famílias que vivem no acampamento têm se virado como podem para driblar a friagem com os poucos cobertores que possuem.

Segundo Fagner, a forte chuva do último sábado (19) alagou barracas e alguns perderam colchões e roupas. Para se proteger do frio, os desabrigados forram o chão com papelão e usam os cobertores que secaram. “Tá difícil, eu tô com essa coberta ainda úmida”, disse.

Um vendedor ambulante que vive no acampamento com a mulher grávida de três meses reclamou que assistentes sociais da prefeitura só aparecem no local para atender moradores de rua e que não levaram nada para eles. “Você acha que a gente tá aqui porque quer?”

PREVISÃO DO TEMPO

A cidade de São Paulo deverá ter uma semana gelada, com a possibilidade de novas madrugadas com recordes de frio. O clima será para casaco e cachecol no começo das manhãs, mas a temperatura sobe ao longo do dia e deve superar a marca de 20ºC —mas sem ultrapassar 23ºC, em nenhum momento, até sexta (25).

A tendência de tempo seco e pouca chance de chuva deve se manter nos próximos dias, que serão ensolarados e com céu limpo também devem se repetir ao longo da semana.

A baixa umidade do ar na capital deve continuar ao menos até a próxima quinta (24), quando aumenta a nebulosidade e também a chance de chuva fraca. O padrão de madrugadas bastante frias e tardes quentes deverá se manter nas próximas semanas até o início do inverno, em 21 de junho. 

De acordo com o meteorologista do Inmet Ernesto Alvin Grammelsbacher, este outono na capital paulista deve ser um pouco mais frio do que o do ano passado, mas sem grandes variações. “Será um outono típico”, afirma.

 

 

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