Descrição de chapéu Obituário Maria Lúcia Santos Pereira (1967 - 2018)

Mortes: Aguerrida, lutou em defesa da população de rua da Bahia

Na vida de militante, ganhou prêmios e foi à ONU

Maria Lúcia Santos no púlpito, discursando
Maria Lúcia Santos discursa na Câmara de Vereadores de Salvador - Valdemiro Lopes/Divulgação CMS
Flávia Faria
São Paulo

Diziam que Maria Lúcia Santos Pereira era problemática. Ela não negava. Se não respeitavam seu povo, ia, sim, criar problemas, porque justiça não se faz calada.

Seu povo é o das ruas, onde ela morou por quase 20 anos. Teve casa, um dia, mas seus anjos da guarda, duas mulheres que a acolheram na falta da família, calharam de voltar para o céu.

Adolescente e sozinha, fez das praças e marquises de Salvador a sua morada.

Se descobria líder a cada vez que a polícia aparecia, tentava levar suas coisas, batia em seus colegas. Lá ia Lúcia, a problemática, dizer que não, senhor, faça o favor de respeitar porque, ainda que o poder público insista em esquecer, morador de rua é gente, sim.

No tempo em que viveu pelas calçadas, Lúcia usou drogas, bebeu. Quis mudar de rumo quando um ex-companheiro disse que ela não servia para nada. Não deixou barato.

Tratada, começou a trabalhar com programas de assistência à população desabrigada, a princípio em uma obra social da igreja católica. Foi se encontrando, vendo nascer em si a militância.

 

Lúcia foi longe. Participou do nascimento do Movimento Nacional da População de Rua e fundou a sua versão baiana, da qual era líder.

Implantou programas sociais, ganhou prêmios, encontrou presidentes e foi à ONU.

Fez o possível para que o povo da rua tivesse seus direitos reconhecidos. Seu sonho era que, um dia, o movimento que fundou fosse tão forte que não precisasse mais existir.

Lúcia morreu, no dia 25, aos 51, em Salvador. Suspeita-se que em decorrência de problemas renais antigos, negligenciados. É que, com tanta gente precisando dela, não via como cuidar de si mesma.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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