Descrição de chapéu Obituário Vera Lúcia Gonzaga dos Santos (1958 - 2018)

Mortes: As muitas perdas no maio de Vera Lúcia

Ativista foi uma das mães em SP que militava contra a violência policial

Paulo Gomes
São Paulo

É maio, mês das mães. Há 12 anos, também em um maio das mães, Vera Lúcia perdeu a filha, Ana Paula, de 19 anos e grávida de nove meses. Aquele maio, portanto, deveria ser marcado pelo nascimento de mais uma criança na família.

Ana Paula foi uma das vítimas do que ficou conhecido como os crimes de maio de 2006 —uma escalada de violência entre o PCC e forças de segurança que deixou 564 mortos, dentre os quais 505 civis. Após atirar em seu ventre, um dos assassinos disse “filho de bandido, bandido é”.

Desde então, Vera Lúcia é uma mãe de maio. O movimento, formado pelas mães de vítimas da onda de mortes, luta por justiça e contra a violência policial.

Antes mesmo de 2006, o mês de maio já havia marcado a morte do marido, que tinha sofrido um AVC e por meia década foi cuidado pela esposa.

Nascida em Curitiba, Vera Lúcia foi tentar a vida em Santos, onde conheceu o homem com quem teve quatro filhos.​​

Trabalhava como cabeleireira. Caprichosa, vivia fazendo as unhas de Débora, líder das Mães de Maio, nas viagens que as duas faziam para representar o movimento. “Era minha escudeira”, lembra Débora.

Descrita como desconfiada —“não acreditava em nada”—, Vera era uma mulher extrovertida, que gostava de pregar peças na amiga, como esconder a bolsa.


Em viagem recente ao Rio, para encontro com mães da capital fluminense, Vera despediu-se de Débora com um recado para a militância local. “Avisa para elas que a gente precisa se unir”, disse, referindo-se a conflitos internos.

Vera Lúcia, mãe de maio, morreu aos 60, no dia três deste maio. Deixa os filhos Luciano, Lucimara e Paulo, seis netos e as companheiras de dor e luta por justiça.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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