Descrição de chapéu Obituário Terezinha Bandeira Farias (1945 - 2018)

Mortes: Mulher 'raça forte', lutou por sua educação e pelas filhas

Sem se resignar ao trabalho duro do campo, decidiu se tornar professora

Terezinha Bandeira Farias com a neta, Marcella
Terezinha Bandeira Farias com a neta, Marcella - Arquivo pessoal
Paulo Gomes
São Paulo

Terezinha era uma mulher "raça forte", como diz uma das filhas.

Seus pais, um casal de agricultores de Boa Vista do Cadeado, no noroeste do Rio Grande do Sul, queriam um filho varão para ajudar na lavoura. Tiveram algumas meninas. Continuaram tentando, mas, sem sucesso —foram dez filhas—, botaram elas para trabalhar.

Terezinha, a quarta, era diferente. Não se resignava ao destino árduo no campo. Viu no estudo a chance de outra vida e foi a única a deixar a lavoura para estudar. Virou professora. Por quilômetros, ia a cavalo alfabetizar crianças.

Casou-se com Anselmo, que trabalhou um período como caminhoneiro. Durante uma das viagens a trabalho do marido, chegaram homens em uma caminhonete na sua casa.

Ao centro, Terezinha Bandeira Farias (1945-2018) com as filhas, o marido e a neta
Ao centro, Terezinha Bandeira Farias (1945-2018) com as filhas, o marido e a neta - Arquivo pessoal

Desconfiada, Terezinha orientou a filha a entrar dentro do guarda-roupa e não fazer barulho. Era um assalto. Com medo, reagiu. Levou socos e pontapés e foi roubada, mas manteve a filha a salvo.

De pouca conversa e frases curtas, gostava de eficácia e de praticidade. Como diz Catia, a filha que teve que se esconder no armário, ela "não tinha paciência para o gerúndio". Preferia a ação plena, conclusiva. "Tenho horror de gente que diz que já está chegando" era uma das frases que a identificavam.

Nas férias, a família não tinha dinheiro para viajar. Para entreter as filhas, Terezinha, então bibliotecária, levava os livros do trabalho para casa, para que servissem de entretenimento à caçula, Tatiana. 

Morreu no último dia 20, aos 72, após uma parada cardiorrespiratória. Deixa o marido, Anselmo, companheiro por 51 anos, as filhas, Catia e Tatiana, a neta, Marcella, nove irmãs e a cachorra Estrela Mar, criada a bolachas.


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