Novo chefe da PM desaba em lágrimas e surpreende tropa na posse em SP

Comandante nomeado se emociona com pai e rompe dureza militar

Coronel Marcelo Vieira Salles, novo comandante da PM paulista, homenageia o pai em cerimônia de posse
Coronel Marcelo Vieira Salles, novo comandante da PM paulista, homenageia o pai em cerimônia de posse - Rogério Pagnan/ Folhapress
Rogério Pagnan
São Paulo

A potente voz do coronel Marcelo Viera Salles, 51, falhou de repente.

Diante de um subtenente aposentado de 84 anos, o comandante máximo da Polícia Militar de São Paulo, do alto de seu 1,88 metro, desabou em lágrimas.

“Quero agradecer ao meu amado pai, Nelson de Almeida Salles...”, disse o oficial quase no final de sua lista de agradecimentos, caindo em choro, para prosseguir em seguida:  “...subtenente da Polícia Militar, minha maior referência como ser humano, como pai, como homem público, como brasileiro”.

Com voz trêmula, quase inaudível, Salles pai respondeu: “que Deus o abençoe, filho”.

A cena de afeto entre pai e filho, vivida na manhã desta sexta (4), marcou a cerimônia de posse do novo comandante da PM paulista na academia do Barro Branco, na zona norte da capital, evento que teve a presença do governador Márcio França (PSB) e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

O choro de um policial é algo absolutamente incomum nos meios militares, tradicionalmente conservadores, onde homens e mulheres se esforçam para transmitir imagens de “durões”. Neste caso, Salles surpreendeu por estar diante da tropa perfilada no pátio e de autoridades no palanque oficial.

Parte dos convidados (entre eles mulheres) aplaudiu o coronel de maneira efusiva quando ele ficou por alguns segundos, em silêncio, chorando diante do pai.

Salles assume o comando no lugar do coronel Nivaldo Restivo, que passará a trabalhar no gabinete do secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho.

Em seu discurso, o chefe da pasta de segurança comentou a ligação entre o Salles pai e o Salles filho e a coincidência na carreira policial dos dois: foi no mesmo boletim interno, de 1985, que foi publicada a aposentadoria do subtenente Salles e o ingresso do aluno oficial Salles. No mesmo dia.

“Isso, sem sombra de dúvida nenhuma, é sinal de Deus. É sinal de que vocês estariam aqui, juntos, para celebrar essa data diante dessa tropa maravilhosa”, disse Mágino, com a voz também embargada.

O subtenente Salles ingressou na Polícia Militar em 1955, quando a corporação ainda chamava Força Pública, e trabalhou praticamente toda a carreira no Corpo de Bombeiros, participando, inclusive, dos principais incêndios da capital paulista, como os dos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974).

O coronel Salles é o caçula de quatro irmãos, o único que seguiu a carreira militar.

Antes de assumir o comando da PM paulista, Salles filho comandou a Cavalaria, trabalhou por anos da Casa Militar (no Palácio dos Bandeirantes). Comandava o policiamento ostensivo na zona oeste da capital quando recebeu o convite para o cargo pelo próprio governador Márcio França.

O novo subcomandante, coronel Fernando Alencar Medeiros, também é filho de um sargento da PM. Alencar é PM há 33 anos e, entre outras funções, comandou a Rota (Ronda Ostensivas Tobias de Aguiar) e comandos de áreas.

Não se sabe quanto tempo Salles permanecerá no cargo. É certo que ficará até o final do ano, quando termina a gestão Márcio França. Se o governador for reeleito, como pretende, o coronel poderá ficar até o final do mandato, já que legislação estadual foi mudada para permitir isso.

Se isso não ocorrer, o novo governador pode escolher um novo nome.

Embora a escolha do novo comandante tenha agradado Mágino, a mudança é vista como uma ingerência em sua pasta. Isso porque ele gostaria de manter Restivo, e a troca ocorreu por vontade do governador. Apesar disso, o secretário diz estar confortável no cargo.

A mudança do comando da PM é a segunda ocorrida na cúpula da polícia desde que França assumiu o governo de São Paulo, após a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB). O delegado-geral Youssef Abou Chahin deixou o cargo no mês passado, logo que França tomou posse. O delegado se aposentou e divulgou uma carta aberta com uma indireta ao novo mandatário.

Ele disse que as pessoas que tentam interferir na Polícia Civil deveriam prestar concurso para delegado. "Aliás, se quiserem aproveitar, o concurso foi autorizado e as inscrições encontram-se abertas.”

O superintendente da Polícia Científica, Ivan Miziara, permanece no cargo.
 

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