Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

SP tem leve 'respiro' no reabastecimento de postos de combustíveis

Caminhões já abasteceram 300 postos nesta terça, segundo sindicato do setor

Dhiego Maia Guilherme Seto Ana Estela de Sousa Pinto
São Paulo

​O abastecimento de combustíveis na Grande São Paulo ganhou um primeiro respiro nesta terça-feira (29). Sem mais os bloqueios de sindicalistas, caminhões deixaram as distribuidoras para abastecer os tanques secos de ao menos 300 postos da capital paulista, segundo levantamento do Sincopetro (entidade que representa os postos do Estado de São Paulo). O movimento dos caminhões-tanque provocou filas quilométricas, horas de espera, comércio paralelo e restrições para a compra dos combustíveis.

O abastecimento está sendo retomado gradualmente na maioria dos grandes centros, e 11 capitais brasileiras nesta terça-feira (29) tinham mais da metade de seus postos com etanol e gasolina, a maior parte no Norte e Nordeste do país.

Para José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro, a normalização do sistema ainda vai demorar na região metropolitana de São Paulo. Segundo ele, cerca de 80% do abastecimento é feito por caminhoneiros autônomos, que ainda estão parados às margens das rodovias.

De acordo com o sindicato, quase todos os cerca de 2.000 postos da capital paulista ficaram desabastecidos em razão da paralisação nacional dos caminhoneiros, que completará dez dias nesta quarta-feira. “O que estamos vendo agora em São Paulo é o movimento de caminhões das distribuidoras e dos próprios revendedores que conseguem transportar só 20% do que é consumido na região metropolitana de São Paulo”, afirma o presidente do sindicato.

A retomada do abastecimento é uma conjugação de fatores, a partir dos compromissos assumidos pelo governo federal no último domingo, como a redução do preço do diesel. Soma-se a isso as negociações do governador Márcio França (PSB) com líderes da categoria no estado e a ação da Polícia Militar para esvaziar as ações de sindicalistas na porta de distribuidoras. Como a Folha mostrou, proprietários de postos de São Paulo estavam se recusando a receber combustíveis em razão de uma série de ameaças e atos de violência praticados por grupos ligados ao movimento grevista

Para o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Marcelo Vieira Salles, há um esvaziamento das mobilizações dos caminhoneiros no estado. Ele diz esperar, para breve, a normalização da vida dos paulistanos. “Nós notamos uma desmobilização bem significativa.”

Para facilitar o transporte dos combustíveis, o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou a publicação de um decreto que define o produto como carga perigosa --com isso, os caminhoneiros não encontrarão nenhuma restrição de horário e perímetro durante o transporte dos produtos.

Nesta terça-feira, a reportagem da Folha acompanhou o reabastecimento feito por caminhões-tanque em vários pontos da cidade. No largo do Arouche, no centro, havia uma fila quilométrica de carros e motos à espera do abastecimento. Muita gente também estava com galões para comprar gasolina a R$ 4,299, o litro. A unidade não recebia uma gota de combustível desde a última quinta-feira (24).

Em outro posto, em São Caetano do Sul, na divisa com o bairro paulistano de Heliópolis, foi fixado um limite de R$ 100 por proprietário —o que significa pouco mais de 22 litros, já que o posto cobra R$ 4,49 o litro da gasolina. Segundo a proprietária do posto, que preferiu não ser identificada, a central de distribuição da rede Ipiranga já informou que a greve não afetará mais as atividades, mas que o abastecimento será feito aos poucos em um primeiro momento.

Seis postos localizados na avenida Tancredo Neves, na região do Sacomã (zona sul), ainda estavam desabastecidos no início da tarde. Um deles pertence à rede Ipiranga, que tem abastecido diferentes postos da cidade nesta terça. Os outros postos não fazem parte de redes mais conhecidas.

A poucos quilômetros dali, na avenida Abraão de Morais, na Saúde, um posto Ipiranga foi abastecido às 14h e rapidamente atraiu dezenas de carros em fila de cerca de 2 km. Nele também foi estabelecido o limite de R$ 100 de gasolina por veículo, cobrando-se R$ 4,489 por litro. Os motoristas ficavam cerca de 30 minutos até chegarem ao fim da fila, e o posto decidiu não abastecer galões.

Outro posto Ipiranga, na Abraão de Morais, concentrou uma multidão ao oferecer o serviço a granel. Diversas pessoas levaram galões de água vazios de 20 litros para enchê-los de gasolina. O vendedor Felipe Costa, 26, levou um galão de água de 5 litros, mas não pode abastecê-lo porque os funcionários do posto disseram que a gasolina derreteria as finas paredes de plástico.

“Vou colocar só nesse outro galão mais resistente então. Vou colocar direto na minha moto para ir para casa. Tá complicado, a gente não sabe se vai ter gasolina amanhã”, disse ele, que ficou cerca de 30 minutos na fila.

Já no centro de distribuição de combustíveis da Raízen, no bairro do Ipiranga, parte dos caminhões conseguiu deixar o local sem a escolta de guardas civis e policiais militares. Não havia manifestantes no local, mas três viaturas da Rota, a tropa de elite da PM, cuidavam do entorno. À Folha um funcionário da central disse que o ritmo de abastecimento de caminhões já pode ser considerado normal.

Na central de distribuição de combustíveis da Petrobras, em Heliópolis, a movimentação de caminhões-tanque também foi intensa na terça-feira, com cinco viaturas da Polícia Militar e duas da Polícia Civil acompanhando a saída de veículos.

R$ 10 o litro

As longas filas nos postos de combustível viraram oportunidade de lucro para algumas pessoas na tarde desta segunda (29). Em Osasco, o dono de um Palio com o porta-malas cheio de galões oferecia gasolina por R$ 10 o litro para os motoristas que aguardavam ao longo de 2 km (em SP,  o preço médio do litro era R$ 3,90 antes das paralisações).

Sem combustível desde sexta-feira (25), a motorista particular Maria da Glória Gomes Barros, 45, comprou cinco litros. "Estava há quatro horas na fila, e de repente o motor morreu. Fiquei totalmente sem combustível. Por isso, precisei comprar", diz ela, dona de um Honda Fit flex. Era o quinto dia seguido que ela enfrentava filas para tentar abastecer seu carro — desde sexta, sem sucesso.

Para José Gouveia, do Sincopetro, o paulistano vai encontrar combustível suficiente nas bombas só a partir da próxima segunda-feira, 4 de junho. "Mas essa previsão só se concretizará se todos os caminhoneiros trabalharem com força total já a partir desta quarta (30)", afirma.

 

 
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