Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Véspera de feriado tem postos cheios e estradas vazias em São Paulo

No litoral norte do estado, hotéis e pousadas tiveram reservas canceladas

Movimento fraco de veículos na rodovia dos Bandeirantes na véspera de feriado prolongado na Grande SP

Movimento fraco de veículos na rodovia dos Bandeirantes na véspera de feriado prolongado na Grande SP Eduardo Anizelli/Folhapress

São Paulo e São Sebastião (SP)

Nem o reabastecimento dos postos de combustíveis de São Paulo nesta quarta-feira foi capaz de animar os morador da cidade a pegar a estrada para passar o feriado prolongado no interior ou no litoral do estado. Reflexo disso foram postos cheios na capital, estradas vazias e reservas em hotéis canceladas aos montes no litoral.

Na cidade de São Paulo, segundo o sindicato dos postos, ao menos 500 dos cerca de 2.000 estabelecimentos receberam caminhões-tanque com gasolina e etanol. A tendência é que tudo esteja normalizado até pelo menos meados da próxima semana.

A chegada dos combustíveis provocou longas filas pela manhã, o que foi perdendo volume até o final da tarde e início de noite. Muitos já estavam com os tanques na reserva devido à paralisação de dez dias dos caminhoneiros. Tanque cheio, porém, não se reverteu em coragem para pegar a estrada na véspera do feriado de Corpus Christi.

José Gouveia, presidente do Sincopetro, explica que o ritmo do abastecimento no interior e no litoral é mais lento, se comparado ao da capital. Quem decidir pegar a estrada pode até chegar ao destino, mas o problema pode estar na hora de encher o tanque para o retorno.

Na primeira parada para alimentação e abastecimento na rodovia dos Bandeirantes, que liga a capital às regiões de Campinas e Piracicaba, o movimento na tarde de quarta em nada lembrava uma véspera de feriado prolongado.

“Está totalmente vazio, mais vazio do que um dia de semana normal”, diz o dono de uma loja de sucos e açaí, Rogério Targa, 48. “Está faltando tudo. E, com a queda de movimento, o faturamento caiu 50% na última semana.”

No restaurante ao lado do posto, o gerente Luciano Morais, 37, também teve prejuízo. “Os alimentos ficaram empacados. Recebemos logo antes da greve começar, mas como tem pouco cliente, estamos vendendo pouco”, afirma.

Os poucos que decidiram viajar precisaram mudar a rotina e os planos. Cláudio Conz, 66, do setor de materiais de construção, diz que passou a semana economizando combustível para poder ir com a esposa para a casa da família em Vinhedo. Para isso, na capital, usou o metrô pela primeira vez na vida, “única coisa boa dessa greve”, conta. “Foi maravilhoso. E ainda é de graça, não sabia que eu não precisava pagar”, afirma. Acostumado a viajar pela Bandeirantes, disse que a pista vazia estava “um espetáculo”.

Mariana Pereira, 34, que trabalha com recursos humanos, e o marido tiveram sorte. Conseguiram abastecer em São Paulo e, por isso, não desmarcaram a viagem para Campinas. “Como é perto, dá para ir e voltar com o que temos no tanque.”

Quatro estudantes de Amparo (SP) contrataram um motorista para poder voltar para casa e visitar a família no feriado. Eles estudam em São Paulo, e os ônibus para Amparo estavam suspensos. “Não tinha previsão para comprar passagens na internet”, diz Gabriella Bulgari, 19, que faz Rádio e TV.  “Pretendemos voltar para São Paulo no domingo, mas ainda não sabemos como”, afirma Mirella Kassouf, 27, estudante de cursinho.

Feriado perdido 

A paralisação dos caminhoneiros afetou diretamente o turismo na região do litoral norte paulista, com até 90% de cancelamento de reservas de hotéis e pousadas.

Empresários do setor vêm contabilizando prejuízos e já dão por “perdido” o feriado prolongado. Em algumas cidades, há turistas “presos” desde o último fim de semana, pois não conseguiram retornar às cidades de origem, devido à falta de combustível.

Segundo o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela, Wilson Alves dos Santos, no último fim de semana, 70% das reservas em hotéis e pousadas foram canceladas. O problema, segundo ele, deverá se agravar no feriado, pois os visitantes não têm certeza se conseguirão retornar para casa.
“Nossas expectativas são as piores possíveis. O feriado que poderia salvar nosso mês está perdido”, disse.

A Associação dos Hotéis e Pousadas de Caraguatatuba informou que 90% das reservas foram canceladas. “Temos associados que estão pensando em fechar durante o feriado, devido à falta de hóspedes”, afirmou o presidente da entidade, Wilson de Oliveira.

O cenário também não é animador em Ubatuba. “O feriado nesta época do ano já é fraco, pois concorremos com destinos de inverno, mas com a greve, sofreremos uma queda brusca no movimento de turistas”, disse o secretário do Sinhores (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Ubatuba), José Carlos de Souza.

Poluição cai

O período de paralisação dos caminhoneiros resultou em transtornos na capital paulista, mas, em relação ao ambiente, pode-se afirmar que houve um ponto positivo: menor poluição do ar.

O Sistema de Informações de Qualidade do Ar da Cetesb (agência ambiental paulista) observou que, nos primeiros sete dias de paralisação, com a queda no tráfego, os índices de poluição atmosférica caíram.

"Na semana passada, tivemos dias desfavoráveis e concentração alta de poluição. Agora, além de ter ventado mais, tivemos diminuição drástica de veículos nas ruas", diz Maria Lúcia Guardani, gerente da divisão de qualidade do ar da Cetesb.

O diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), Paulo Saldiva, fala em redução de 50% da poluição na cidade. "Dependendo da estação de medição, [caiu] para menos da metade", afirma.
 

Dhiego Maia, Marina Estarque e Reginaldo Pupo

Colaborou o Agora

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