Viúva de Marielle se oferece para restaurar mural tingido em SP

Instalação fica em escadaria e foi atingida por tinta; arquiteta fala em 'expressão de ódio'

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Janaina Garcia
São Paulo | UOL

Um painel com o rosto de Marielle Franco, produzido por voluntários e militantes de direitos humanos, em Pinheiros (zona oeste), para homenagear a vereadora carioca após seu assassinato, em 14 de março, foi tingido por tinta preta e vermelha. 

Ao lado da arte —uma foto ampliada do rosto da parlamentar em preto e branco—, frases que a exaltavam foram apagadas com tinta branca. 

O ato foi interpretado como vandalismo por grafiteiros, militantes de direitos humanos e pela mulher de Marielle, a arquiteta Monica Benício

Ela classificou a ação no painel como mais uma forma de silenciar as causas defendidas pela companheira. 

Ela se prontificou a ir à cidade de São Paulo para auxiliar os artistas autores do painel na sua reparação.

Praticamente metade do painel foi atingido por tinta preta. Na altura da testa da imagem, foi lançada tinta vermelha. Cartazes com a mensagem "vai ter luta" foram arrancados, e um grafite com a inscrição "mulher preta, lésbica, papo reto, Marielle presente! Pra se inspirar, se mexer, pra não esquecer" foi apagado.

Para Monica, que define o painel como "um dos mais divulgados, um dos mais bonitos" sobre Marielle, a intervenção sobre ele é uma "expressão de violência" a ser diariamente enfrentada. 

"É com muita tristeza que vejo que ainda existem essas expressões de ódio, e a gente vai continuar lutando contra elas. Só que, diferente deles, não com violência, mas construindo com afeto."

O painel, que estampa a escadaria entre as ruas Cristiano Viana e Cardeal Arco Verde, foi montado na semana seguinte ao assassinato de Marielle, no centro do Rio, com quatro tiros na cabeça. A ação também resultou na morte do motorista dela, Anderson Pedro Gomes. Mais de dois meses após as mortes, o crime ainda não foi elucidado.

O coletivo paulistano que instalou o painel preferiu não se manifestar. Na última sexta-feira (25), uma nova intervenção no painel estampou a mensagem "Amar atrai amor". No alto, um maço de flores coloridas foi colocado.

A principal linha de investigação do crime é o envolvimento de milícia, e o secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, já relacionou o assassinato à atuação política da vereadora.

Uma testemunha-chave do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes afirmou em depoimento à Polícia Civil que no carro dos assassinos havia um policial militar do 16º batalhão (Olaria), um ex-PM da Maré e outros dois homens.

A testemunha é a mesma que afirmou que o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, conhecido com Orlando Curicica, foram os mandantes do crime. Eles negam as acusações.

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