Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Adolescente de 14 anos morre baleado a caminho da escola no Rio

Ação da Polícia Civil deixou outros seis mortos e mais dois feridos

Armas e munições apreendidas pela Polícia Civil em operação no Complexo da Maré, na zona norte do Rio - Divulgação/Polícia Civil
Júlia Barbon
Rio de Janeiro

​Um adolescente de 14 anos foi morto nesta quarta-feira (20) durante operação policial no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

Devido aos ferimentos, o jovem teve o baço retirado, foi internado em estado grave e passaria por nova cirurgia na sexta-feira (22), segundo a família, mas morreu no início da noite desta quarta. O garoto foi atingido enquanto ia para o colégio, por isso chegou ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, a cerca de 7 km da Maré, de uniforme. 

A ação da Polícia Civil, que teve apoio do Exército e da Força Nacional, também deixou seis mortos e, de acordo com a ONG Redes da Maré, mais dois feridos: um segundo adolescente não identificado que também estaria internado e um mototaxista atingido por estilhaços que já teria sido liberado —o que não foi confirmado pela polícia.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram um helicóptero sobrevoando as casas, com sons de disparos em série. Segundo a ONG, o chão da favela tem muitas marcas de tiro e restos de munição — ​​foram contabilizadas, por exemplo, 59 marcas em um perímetro de 280 metros e outras 100 em uma área próxima a escolas. Crianças tiveram que se esconder do tiroteio em dois colégios da região. 

O caso desta quarta levou a Defensoria Pública do RJ a entrar com um pedido de liminar na Justiça para proibir disparos de aeronaves durante operações nas favelas ou em lugares densamente povoados. A prática também foi filmada em uma outra ação na Maré recentemente.

"A probabilidade de atingir pessoas inocentes é imensa, tanto que, mais uma vez, um adolescente foi ferido, além do terror psicológico que causa aos moradores e interrupção das atividades na comunidade", afirma o defensor público Daniel Lozoya, que assina a petição.

Moradores fecham linha Vermelha

A Linha Vermelha e a avenida Brasil ficaram totalmente fechadas por mais de quatro horas, na madrugada desta quinta-feira (21), no trecho do Complexo da Maré, zona norte do Rio.

Moradores revoltados com a morte do garoto fizeram barricadas com pneus incendiados na Linha Amarela. Um ônibus também foi incendiado por outro grupo de manifestantes na avenida Brasil, por volta da 0h.

Com isso, todos os acessos das duas vias à Linha Amarela também ficaram interditados. A Polícia Militar foi acionada e dispersou os grupos.

Por volta das 4h, as vias tinham sido liberadas, segundo o Centro de Operações Rio.

A OPERAÇÃO

A operação na Maré, que começou por volta das 9h e contou com mais de cem policiais, teve apoio logístico do Exército —responsável apenas por transportar os agentes em veículos blindados até os pontos assinalados pela polícia, segundo o Comando Militar do Leste.

O objetivo era cumprir 23 mandados de prisão e checar informações obtidas pelo setor de inteligência da Polícia Civil. A ação teria relação com a morte do inspetor Ellery de Ramos Lemos, chefe de investigações da Delegacia de Combate às Drogas.

Ele foi baleado na cabeça no último dia 12, durante uma operação contra o tráfico em Acari (também na zona norte do Rio de Janeiro).

Segundo a Polícia Civil, agentes que foram efetuar as prisões em duas residências nesta quarta "foram recebidos com intenso disparo de armas de fogo". No confronto, seis suspeitos teriam sido feridos e socorridos, mas acabaram morrendo.

Já a Redes da Maré diz, em seu site, que moradores da região da Vila dos Pinheiros relataram a execução de cinco jovens por agentes. "Segundo informações colhidas pela equipe da Redes da Maré, os policiais utilizavam luvas e teriam desfeito a cena do crime jogando os corpos dos jovens pelo segundo andar da casa onde ocorreu o crime."

O Hospital Federal de Bonsucesso, que fica ao lado do complexo e recebeu cinco dos mortos, informou que eles chegaram já sem vida, por volta das 11h. Todos eram homens com idades entre 20 e 30 anos.

A ação teve participação de três delegacias especiais, três delegacias policiais da região (Vicente de Carvalho, Pavuna e Queimados), da Coordenadoria de Recursos Especiais e do Serviço Aeropolicial.

De acordo com a polícia, os agentes apreenderam quatro fuzis, oito carregadores, duas pistolas, quatro granadas, munição e drogas (1.832 pinos de cocaína, 75 saquinhos de maconha e cerca de 2 kg de cocaína), além de ferramentas utilizadas para arrombamento de caixas eletrônicos.

A Polícia Civil não comentou o caso do adolescente baleado nem respondeu aos questionamentos da reportagem sobre denúncias dos moradores de tiros indiscriminados do helicóptero, execução dos suspeitos e arrombamento de casas sem mandado judicial.

OUTRA OPERAÇÃO

A zona sul do Rio também amanheceu com tiroteio nesta quarta, por volta das 6h30. Uma operação da Polícia Militar nos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que ficam entre Copacabana e Ipanema, deixou ao menos dois feridos. Ambos foram levados ao Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, mas a PM disse não saber se algum deles morreu.

"No início da ação, criminosos atiraram contra os policiais que 'incursionavam' no local e houve confronto", informou a corporação em nota. Depois que os tiros cessaram, os dois feridos foram socorridos, dois presos foram conduzidos para a delegacia da área e uma pistola foi apreendida.

Policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da região realizaram a ação para "coibir práticas criminosas nas comunidades", em conjunto com o Grupamento de Intervenções Táticas da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP).

O estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal na segurança pública desde o dia 16 de fevereiro, sob comando do interventor e general do Exército Walter Braga Netto.

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