Bois caem de navio e são resgatados no litoral norte de São Paulo

Acidente gerou protestos contra a exportação de animais vivos

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Bois pulam de navio no litoral norte de São Paulo - Divulgação
Reginaldo Pupo
São Sebastião (SP)

Tripulantes de um veleiro encontraram na manhã desta quinta-feira (14) um boi vivo boiando no canal de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.

Ele caiu no mar durante o processo de embarque de um grupo de 5.000 cabeças de gado no porto de São Sebastião -- o terceiro do país que mais exporta animal vivo no país, atrás somente de Barcarena (PA) e de Rio Grande (RS).

Trata-se do segundo caso desde o último dia 8 de junho, quando mais dois bois caíram no mar em outro acidente envolvendo o carregamento de uma embarcação. 

Após o acidente, um grupo de ambientalistas e defensores de animais fez um protesto em frente à Companhia Docas de São Sebastião, estatal responsável pelo porto, contra o transporte de cargas vivas. “Basta de crueldade com os animais” e “Animais estão sofrendo” foram algumas das mensagens exibidas pelos manifestantes.

Um animal foi içado por velejadores perto da praia da Armação, ao norte da cidade vizinha de Ilhabela, e rebocado até a praia das Cigarras, em São Sebastião. O boi resistiu por cinco horas às águas geladas do canal e às altas ondas provocadas por uma ressaca que atingia o litoral naquela manhã. De acordo com velejadores, ele aparentava estar estressado e debilitado.

O navio “Aldelta”, de bandeira panamenha, tem a previsão de levar a carga viva para o Oriente Médio na noite desta sexta-feira (15). 
 
O boi foi localizado cinco horas depois de cair no mar, a uma distância de 10 km de onde o navio está atracado. Os tripulantes do veleiro acionaram a Defesa Civil de São Sebastião e representantes do porto. 

"Após o boi quase morrer na praia, começou outro tormento. Ele teve as quatro patas amarradas e foi içado para a carroceria de um caminhão", conta o ambientalista Rodrigo Polacow, que fotografou e filmou toda a ação. Segundo ele, o animal não apresentava ferimentos. "Ele chegou a ficar em pé por alguns minutos, mas, exausto, tombou e não conseguiu se levantar mais".

Segundo Polacow, antes de ser imobilizado na areia da praia, o boi avançou sobre um bote que estava na areia e quebrou o motor. "Ele estava bastante agressivo e chegou a avançar nas pessoas quando o caminhão se aproximou". 

"Ninguém sabe o que aconteceu com o boi. Não sabemos se ele de fato recebeu tratamento médico, conforme prometido, ou se foi simplesmente misturado aos demais", afirmou Polacow. 

Uma ação civil pública em tramitação na Justiça Federal de São José dos Campos (SP) tenta barrar o transporte de cargas vivas. O juiz federal Djalma Moreira e o procurador regional da República Sérgio Monteiro já deram pareceres contrários ao transporte de cargas vivas. A Assembleia Legislativa paulista analisa um projeto de lei que também quer acabar com a exportação de animais vivos pelos portos de São Paulo.

Uma das reclamações de moradores de São Sebastião, e também de Santos, diz respeito ao cheiro e ao rastro de urina e esterco que deixam as carretas que transportam gado até os portos. Moradores e motoristas (que trafegam atrás das carretas) vêm se queixando do problema desde o ano passado, quando este tipo de transporte se intensificou.
 
“Temos que ficar presos em casa pois o cheiro é insuportável”, afirma o comerciante Rodrigo Demasceno, 31, que reside na Vila Amélia, bairro próximo à região portuária. 

Já a cabeleireira Ana Lúcia Prates, 43, diz que chega a se sentir mal quando se depara com uma carreta à sua frente, enquanto dirige do bairro da Enseada, onde reside, até o centro, onde trabalha, num trajeto de 10 km. “Faço de tudo para não ficar atrás das carretas na estrada, pois o cheiro é realmente muito insuportável e sinto dores de cabeça terríveis”.

Em nota, a Companhia Docas de São Sebastião informou que não foi citada na ação civil pública e que acionou uma empresa terceirizada do porto, a Transcopa, para buscar na areia o animal que foi achado no mar pelos velejadores. "Durante o transporte de cargas vivas por empresa privada (a TSS - Transcopa) nesta quinta-feira, no porto de São Sebastião, um animal (boi) caiu no mar e foi prontamente resgatado e reembarcado, com boas condições de saúde após avaliação de veterinário a bordo do navio", informou a estatal na nota.

Os bois chegam carregados em carretas, vindos do interior do país. Os veículos entram no porto, estacionam ao lado do navio e começam o desembarque. A Companhia Docas não informou se, nesse processo, é obrigatória a presença de um funcionário do Estado para fiscalizar o transporte da carga viva do caminhão ao navio.

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