Danos em muro de vidro da USP são alvo de nova linha de investigação

Em 3 meses, houve 11 casos de painéis danificados; espaço segue sem câmeras

Rogério Pagnan
São Paulo

Quase três meses após a inauguração de parte do muro de vidro para separar a marginal Pinheiros da raia olímpica da USP, na zona oeste de SP, a promessa de monitoramento da área por câmeras segue sem previsão, e uma nova linha de investigação reforçou a suspeita de que as placas quebradas foram alvo de ataques, e não acidentes.

Os episódios com vidros estilhaçados desde 18 de abril chegaram a 11 na última semana —cada placa danificada é avaliada em R$ 4.000.

A polícia e a gestão Bruno Covas (PSDB) passaram a desconfiar da existência de um padrão nos dias em que as quebras foram registradas.

A suspeita é que tenha relação com as escalas de trabalho de algum funcionário, devido à sequência de dias ímpares ou pares dependendo do mês, além de os casos ocorrerem sempre de madrugada.

O muro de vidro da raia da USP teve um trecho inaugurado pelo então prefeito João Doria (PSDB) em 4 de abril, poucos dias antes de ele sair da prefeitura para se candidatar ao governo do estado.

O projeto de implantação das placas, financiado por empresas parceiras, está estimado em R$ 15 milhões. O custo futuro de manutenção, porém, deve ficar com a USP.

No pacote, a prefeitura prometia haver monitoramento do chamado sistema “city câmeras”. Elas até chegaram a ser colocadas, mas, para funcionarem, precisam que a USP implante uma conexão.

A USP, por sua vez, diz que “está trabalhando para interligar as novas câmeras ao sistema de monitoramento já implantado na Cidade Universitária”. “Esse processo está em desenvolvimento”, afirma, embora diga não haver prazo.

Sem as câmeras, a continuidade do muro segue devagar, também sem data para que toda a estrutura seja concluída.

Dos 2,2 km do muro de alvenaria construído há 21 anos, cerca de 500 metros foram inicialmente substituídos por vidros. Ao fim do projeto, terão sido colocados 1.222 vidros.

A quebra mais recente de placas foi registrada pela polícia na madrugada do último dia 23, uma sexta-feira. Todos os outros episódios registrados em junho também ocorreram de forma alternada, em dias ímpares: 5, 7, 11, 13, 15, 17.

Na avaliação de policiais, é improvável que a coincidência seja acidental, de casos espontâneos, como motivados por trepidações de veículos que passam pela marginal.

Já em abril, todos os casos registrados foram em dias pares: 18, 20, 24 e 28. E não houve nenhum no mês de maio.

Pela hipótese em apuração, de envolvimento de funcionário que trabalhe nas imediações, ligado à USP, à prefeitura ou mesmo a alguma empresa, isso seria explicado por motivo de férias de alguém na escala de 12 horas por 36 horas—típica de vigilantes noturnos.

A quebra de placas tem ocorrido mesmo com a presença de agentes destacados para a vigilância na área. 

A prefeitura chega a colocar até três carros da guarda no período noturno, além de haver vigilantes contratados que ficam no lado interno.

Um suspeito foi preso furtando uma barra de alumínio em 28 de abril, mas não há indicações de que seja a mesma pessoa que quebrou as placas.

Na avaliação da prefeitura, não houve nenhuma mudança no trânsito ou climática que pudesse explicar um longo intervalo sem danos em maio —e episódios seguidos nos meses de abril e junho.

Em testes realizados na prefeitura, os vidros (que seriam cinco vezes mais resistentes que os comuns) suportaram até batidas de martelo. A dúvida é se foi colocado na raia material idêntico ao do teste.

O que dificulta a apuração da polícia para indicar uma linha de investigação é não ter sido encontrado nenhum material que poderia ter sido utilizado na quebra de vidros —como barra de ferro ou pedra.

Também não foram localizados pássaros, outra possibilidade aventada, e uma testemunha de um dos casos (último dia 15) disse ter visto um vidro estourar sozinho.

A Polícia Civil diz ter ouvido uma série de guardas universitários da USP, assim com também pediu para a Polícia Científica realizar exames no local para dizer “se os vidros foram danificados de dentro para fora ou vice-versa”.

Como não há previsão de quado os laudos ficarão prontos, também não há previsão de quando terão resposta.

Construída em 1973 paralelamente à marginal, a raia olímpica é um conjunto esportivo destinado à prática do remo e da canoagem. Também costuma ser ponto de treinamento de atletas amadores.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.