Desconfiam até de mim e da família, afirma a mãe de Vitória Gabrielly, 12

Família de menina morta em SP diz enfrentar novo drama após o crime

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São Paulo

Mãe da menina de 12 anos assassinada em Araçariguama, no interior paulista, a professora Rosana Maciel Guimarães, 39, diz enfrentar um novo drama por ser alvo de desconfianças duas semanas depois do sumiço da filha.

"Tem gente me mandando mensagem dizendo: 'Fala logo que foi você, assume'. Que isso? pelo amor de Deus!", afirma em entrevista à Folha a mãe de Vitória Gabrielly, encontrada morta após desaparecer na tarde de 8 de junho, quando foi brincar de patins em um ginásio esportivo perto da casa da família.

"Como a polícia não tem uma resposta, as pessoas querem atacar a mim, querem atacar ao pai, atacar a madrasta. Não é por aí", reclama a professora de ensino infantil, que considera desnorteada a investigação da Polícia Civil, que apura diversas hipóteses para a morte da garota.

"Não acho justo querer jogar para cima da minha família, em mim agora. Eu tenho certeza de que isso não é vingança [como a polícia diz suspeitar]. Isso daí, sei lá, talvez [alguém] pegou [Vitória] por engano e, depois que pegou por engano, teve que dar um jeito", afirma a mãe.

Ela também diz que vem sendo criticada porque estava no trabalho enquanto a menina brincava sozinha na rua.

"Até na televisão já falaram: 'Onde estava a mãe?'", reclama Rosana, que chegou a ser acusada por um político local de manchar a imagem de Araçariguama por se queixar da falta de câmeras de segurança.

"Queriam que eu calasse a boca, não falasse mal da cidade", afirma a mãe. "As câmeras não teriam evitado [a morte da filha], mas teriam ajudado a esclarecer", afirma.

O local onde Vitória brincava de patins e foi vista pela última vez viva fica a cerca de 600 metros da casa da família.

Era, segundo a família, a primeira vez que a menina tinha ido sozinha até lá. Para a mãe, esse é mais um indício que afastaria a tese de vingança, uma das hipóteses investigadas pela polícia. "Como essa pessoa saberia que a minha filha iria sair de casa naquele dia, naquele minuto? Ela não tinha essa rotina", afirma.

O corpo da garota foi encontrado no último sábado (16) em uma mata da cidade, ao lado do patins que usava. O cadarço do brinquedo foi usado para amarrar braços e pernas da menina.

O advogado dos pais da vítima, Roberto Guastelli, diz que não havia sinais de violência sexual e que possivelmente a menina foi morta asfixiada.

Segundo informações disponibilizadas pela polícia, algumas testemunhas disseram ter visto a menina conversando com uma pessoa que tinha um carro escuro, próximo ao ginásio onde ela brincava.

Em busca dessa pessoa, a polícia perseguiu algumas pistas e, na semana passada, prendeu um suspeito de participação no crime. O pedreiro Julio Cesar Lima Ergesse, 24, chegou a confessar envolvimento, mas deu oito versões diferentes, que não foram confirmadas na investigação.

O rapaz, porém, segue preso, e a família da vítima suspeita que ele tenha problemas mentais e que os policiais possam estar diante de mais uma pista errada. "Ela [polícia] não tem um norte. Só está segurando ele porque ele confessou. Se ele não tivesse confessado, ele já estaria na rua", afirma a mãe de Vitória.

O pedreiro chegou a citar a participação de um casal no crime, mas que tinha um álibi. O carro deles, supostamente utilizado no sequestro de Vitória, estava na oficina.

"Segundo informações de Mairinque [vizinha à cidade da vítima], algum tempo atrás, ele também teria assumido um homicídio que não era dele", afirma Guastelli, advogado do pai e da mãe de Vitória, que são separados.

Ele procurou a chefia da Polícia Civil paulista para pedir que a investigação da morte da garota seja feita diretamente pelo DHPP (delegacia especializada em homicídios) --peritos do departamento estiveram nesta semana em Araçariguama para ajudar.

A polícia não descarta nem mesmo que a morte de Vitória possa ter ligação com questões políticas ou ao esporte amador. O pai de Vitória, Luís Alberto Vaz, 34, foi candidato a vereador em 2016, pelo PTN, e em 2012, pelo PV. Perdeu em ambos os pleitos.

Vaz, que agora é vice-presidente e técnico do time Belo Horizonte, de futebol de várzea, refuta a possibilidade de ter inimigos nesse meio.

A Secretaria da Segurança Pública, do governo estadual de Márcio França (PSB), disse, em nota, que a delegacia "analisa imagens e realiza oitivas e diligências para identificar e prender os autores" e que uma equipe do DHPP auxilia na investigação. Sobre críticas da família, a pasta não fez comentários. A Justiça decretou sigilo da investigação.

Fã de novela infantil, garota de 12 anos sonhava ser atriz

Em sua última imagem ainda com vida, Vitória Gabrielly, 12, aparece colocando um patins rosa para brincar em um ginásio de esportes. O brinquedo tinha sido um pedido do Dia das Crianças.

"Ela havia acabado de fazer 12 anos, ainda brincava de boneca. Só tinha tamanho", diz a mãe, Rosana.
Ela afirma que, entre os sonhos da menina, estava ser modelo e atriz. Não para desfilar em passarelas, mas para participar de novela infantil.

A sua predileta, diz a mãe, era "Poliana", exibida pelo SBT, que conta a história de uma menina que consegue ver a parte boa em todas as coisas da vida. A ausência de Vitória diante da TV, quando a novela começou, foi a senha para a mãe ter certeza do sumiço. "Liga para um, liga para outro e nada. Entrei em desespero."

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