Descrição de chapéu trânsito violência

Ladrões bem vestidos enganam manobristas e roubam carros em SP

Tática dos criminosos surpreende estacionamentos da região da Paulista

Guilherme Seto
São Paulo

​Um homem branco de meia idade desce a ladeira do estacionamento. Óculos, barba por fazer, camisa social, relógio no pulso esquerdo. Falando ao celular em uma ligação que parece importante, ele se dirige ao automóvel, agarra as chaves no para-brisa, entra no carro e deixa o local.

Ele acabou de furtar o veículo do estacionamento.

Cartaz com foto de suspeito em estacionamento na rua Bela Cintra, em SP - Eduardo Anizelli/Folhapress

Esse modus operandi de ladrões tem surpreendido estacionamentos da região da Consolação, no centro de São Paulo, mais especificamente nas áreas próximas da avenida Paulista, mas não somente lá —há registros de ações também em bairros das zonas sul e da zona oeste da cidade.

Em aplicativos de mensagens de funcionários do setor eles são tema frequente. Só na rua Bela Cintra, na Consolação, três estacionamentos foram vítimas dos larápios.

Os funcionários dos estabelecimentos dão relatos parecidos. Em geral, há a abordagem de um primeiro rapaz, que pergunta as tarifas mensais. Durante a conversa, ele passa os valores por telefone para uma pessoa que diz ser seu chefe. 

Nesse primeiro contato, acreditam os responsáveis pelos estacionamentos, eles conseguem um panorama do local: número de funcionários, esquema de segurança e quais são os carros estão mais fáceis de pegar.

“Eles estavam bem trajados, falando no celular. É uma estratégia para não serem abordados. Agem em horário de pico, quando o entra e sai é grande. Não usaram arma nem nada. Falam com o manobrista, são bem educados. Têm frieza”, diz Adonias da Silva, 36, supervisor de um estacionamento na Bela Cintra do qual eles furtaram dois automóveis.

Outro estacionamento que pertencia à mesma rede teve carro levado no Itaim Bibi.

Câmeras de segurança flagraram a ação dos ladrões, e os proprietários afixaram cartazes com seus rostos nos estabelecimentos.

“Ninguém desconfia deles por causa da aparência. Vieram de roupa social, bem vestidos, falando no celular. Você fica até meio assim de interromper a ligação. Te pegam no descuido”, completa o supervisor.

Os alvos são parecidos: estacionamentos localizados em subsolos de edifícios, com muitas vagas e sem cancelas.

Em outro estacionamento, mudaram caprichosamente alguns detalhes na ação.

“Ele veio com um jornal debaixo do braço, foi simpático, cumprimentou a moça que estava subindo a rampa. A gente deixava um quadro de chave no andar de baixo, e não ficava ninguém lá. Ele pegou uma BMW e foi embora. O rapaz que trabalhava aqui deu bobeira”, relembra o manobrista Felipe Edson, 24, que atua na região da Consolação.

Cartaz com foto de suspeito em estacionamento na rua Bela Cintra, em SP - Eduardo Anizelli/Folhapress

No estacionamento vizinho, o gatuno viveu momentos de apreensão, mas conseguiu escapar mesmo assim.

“Ele chegou numa boa, com uma roupa bacana, e no horário do vaivém. Desceu, conversou, pegou um Fiesta e foi embora. Foi vacilo nosso. Ele deu de frente com a dona do carro na saída. Ela gritou, e a gente correu, mas ele acelerou e fugiu”, diz o manobrista Renato Gonçalves.

Diante do ocorrido, os estacionamentos têm tomado algumas medidas de segurança.

Eles não deixam mais as chaves dos carros nos pneus, para-brisas ou qualquer lugar de fácil acesso. Além disso, compartilham as informações sobre suspeitos em aplicativos e afixaram cartazes com imagens dos supostos responsáveis pelos furtos.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo diz que não localizou boletins de ocorrência referentes ao tema e ressalta a importância de que eles sejam feitos para que os casos sejam investigados.

Além disso, afirma que equipes se dirigiram aos estacionamentos e conversaram com os responsáveis.

Por fim, ressalta que ações das polícias Civil e Militar fizeram reduzir em 11% neste ano o número de furtos e roubos de veículos nas áreas mencionadas (Itaim Bibi, Pinheiros e Consolação) em relação ao ano passado.

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