Era uma terça chuvosa quando Tici chegou ao bar para o aniversário de um amigo e deu de cara com Carlos Eduardo. Perguntou seu nome. “Cacá”, ele respondeu. “Não quero saber seu apelido, mas seu nome”, rebateu ela
Mal sabia ele que Tici nunca tinha tido um namorado —e que precisaria passar pelo crivo de nove amigas dela durante o segundo encontro dos dois. Também não imaginou que acabariam vivendo juntos por 14 anos.
Típica paulistana, ela foi dessas crianças criadas em apartamento, no Jardim Marajoara, bairro nobre da capital. Se formou advogada e mais tarde chefiaria um time de 12 profissionais num dos maiores escritórios da cidade.
A exigência que teve para escolher seu par, tinha na vida profissional. A arrogância, no entanto, passava longe. Fez questão, certa vez, de pleitear um bônus para os colegas da firma. Ao chegar em casa aliviada, comentou: “Porra, deixei todo mundo bem, consegui o que eu queria para a galera”.
Mas alívio mesmo era o final de semana. Aí ela reunia os amigos numa roda de samba ou num pagodinho —podia ser sertanejo ou axé também. Só não dava para faltar o churrasco, a cerveja e a voz alta de Tici, como boa descendente de italianos. Nem seu sorriso, parece que saído de uma caixinha de chiclete.
O riso de Ticiana, no entanto, perderia um pouco do brilho há cinco anos. Foi quando engravidou, mas perdeu o bebê no segundo mês. Grande baque para quem sonhava ser mãe. O casal seguiu tentando até recorrer a uma clínica em busca da inseminação artificial.
No meio do processo, o segundo baque: descobriu um câncer, desses bem raros, que se instalou na sua coluna.
Por três anos, Tici lutou contra as metástases da doença. Foi vencida no dia 8 de junho, aos 35, deixando a mãe, o pai, dois irmãos e o marido.
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