"É um Boeing 747", dizia David sem olhar para cima assim que o ronco das turbinas de um avião cortava o céu sobre o Brooklin, na zona sul de São Paulo. O modelo da frase podia variar. "Esse é um Airbus 320."
O que não mudava era a precisão: bastava uma aeronave apontar no firmamento que o homem dava o seu palpite. Quem checasse invariavelmente atestaria a veracidade.
Nascido na capital paulista, filho de um jornalista com uma professora, David cresceu no Paraíso brincando com a irmã em meio aos jardins do Palácio Episcopal.
O apreço pelos aviões era um sonho de infância que evoluiu. Chegou a tirar o brevê, mas frustrou-se com a grande quantidade de horas de voo exigidas para migrar à aviação comercial e acabou migrando para outras áreas, como a de desenhista projetista e a de processamento de dados.
Sujeito pacato, de vida recatada, David manteve o fascínio pelos aviões dentro de casa, montando réplicas com o aeromodelismo.
Outra de suas paixões era o automobilismo. Sabia tudo dos GPs e sofreu um grande baque com a morte do ídolo Ayrton Senna, em 1994. A minuciosa prática de colecionar e montar réplicas também era feita com carros de corrida, como o clássico Copersucar-Fittipaldi.
Um dos hábitos que talvez melhor ilustre seu espírito bucólico era o de levar as duas filhas para pescar no interior paulista.
A família chegou ainda a ter três cachorros e quatro pássaros.
David levantou voo na sexta-feira (8), aos 55, após quase um ano com uma leucemia. Deixa a mulher, Rita de Cássia, com quem completou um quarto de século de casado no último ano, as filhas Mariana e Fernanda, os pais Maria Francisca e David, a irmã Sílvia Maria e sobrinhos.
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