Não podia passar um dia sem tocar violão e cantar, senão Paulo Djorge ficava estressadíssimo. Levava o instrumento para todo canto e revezava entre "Waiting In Vain", do Bob Marley e "Pra Sonhar", de Marcelo Jeneci.
Nem parecia ele mesmo compositor de centenas de canções para cinema, teatro e TV —famosas na voz de cantoras como Ellen Oléria, Flora Matos, Célia Porto, Greice Ive.
Antes de assumir o nome artístico Djorge, foi Paulinho Brasília por muitos anos. Nascido no Maranhão, viveu no Rio e em Paris, mas gostava mesmo era da capital federal.
Tinha especial ligação com o Planalto Central e a Chapada dos Veadeiros —lugares em que se sentia conectado com o universo, diria ele, que, espiritualizado, seguia a religião japonesa Mahikari.
Quando deixava as notas musicais de lado, era o "masterchef" sem receita. Cozinhava seguindo a intuição. "Como você fez isso?" podiam perguntar, que ele desconversava. "É uma alquimia."
Leonino, também não perdia a chance de falar um "acho que faria melhor", nem no mais renomado restaurante. Avesso a fast-food, seu negócio era alimentação natural, salada e chá.
Estava prestes a lançar três projetos: seu primeiro CD, o segundo livro, "O Contador de Sonhos", e um musical, o "Na Veia do Samba". Missão que a mulher, Roberta Carolina Gontijo, 34, diz que vai assumir.
Certa noite, Paulo escreveu uma letra para Carol. "Meu coração de vidro pode quebrar, meu coração de papel pode amassar, meu coração de pedra pode furar...", cantou, no dia 7 de junho de 2016.
Não podia prever, porém, que seu coração, de músculo, pararia num infarto fulminante exatos dois anos depois, aos 54. Ele deixa a mãe, uma irmã, a mulher e quatro filhas.
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